Domingo, 28 Abril 2024

O tema da atividade imobiliária pode manter um íntimo relacionamento com a questão sócio-cultural. Normalmente a indústria da construção (“salmoneira” ou não) segue as chamadas leis do mercado. Assim, que tipo de produto é oferecido, para quem e onde são peças do quebra-cabeça montado pela economia.

 

A evolução da cidade portuária de Santos já transformou algumas vezes o espaço denominado de sítio urbano, provocando grandes mudanças no patrimônio edificado. Entretanto, diversas áreas, talvez por não possuírem atrativos suficientes a este mercado da sociedade contemporânea, permanecem em estado letárgico ou decadente.

 

Há nove anos atrás, em agosto de 1997, encaminhei ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) um parecer com um pequeno histórico referente ao período 1993-1997 do edifício da Hospedaria dos Imigrantes. Naquela ocasião, o Ministério Público questionava o Conselho quanto à necessidade, conveniência e oportunidade do tombamento do referido imóvel.


 Foto: www.novomilenio.inf.br

Considerando o estado de abandono em que até hoje o prédio se encontra (apesar de já estar legalmente tombado pelo órgão municipal de preservação do patrimônio), julguei pertinente relatar parte desta novela. O cenário já serve para o gênero tragédia, pois lá recentemente pelo menos um homem morreu enquanto tentava surrupiar vigas de ferro da construção. Foi atingido por parte da laje que desabou.

 

Em maio de 1993, o historiador e chefe da Seção Técnica do Acervo do Centro Histórico-Cultural, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, Teodorico Ferreira Cabral, afirmava que o prédio da antiga “Hospedaria de Imigração”, situado à rua Silva Jardim, 95, na cidade de Santos, poderia em breve abrigar os restos mortais do navegador português Martim Afonso de Souza.

O governo estadual pretendia transformar a antiga hospedaria em um centro de cultura e museu da agroindústria paulista, conforme o Decreto nº 36491, de 15 de fevereiro de 1993, assinado pelo então governador Luiz Antônio Fleury Filho, que criou o Núcleo Martim Afonso de Souza.

Ali seriam realizadas exposições de mobiliário antigo da época de ouro do café e de outros produtos agrícolas do Estado de São Paulo, além de sementes e mudas. A Seção Técnica chegou a reunir alguns documentos históricos, inclusive a planta original do imóvel. O projeto previa a revitalização do local, com o restauro do edifício, para implantação do Núcleo Martim Afonso de Souza, que deveria ter ocorrido até janeiro de 1994.

 

Em agosto de 1994, a imprensa noticiava que o antigo prédio, em processo de decadência desde a década de 30, poderia ser restaurado mediante parceria entre os governos municipal e estadual, com a participação da iniciativa privada.

 

Em 2 de outubro de 1995, a Secretaria de Agricultura e o Instituto Herbert Levy assinaram um protocolo de intenções para definir um programa de cooperação na área histórico-cultural, prevendo o desenvolvimento de projetos de mútuo interesse. A ênfase ainda recaía sobre as propostas vinculadas à esfera de atuação do Núcleo Martim Afonso de Souza e a novela ainda teria muitos capítulos (leia mais).

 

Semana que vem, mais um pouco de história das tentativas de preservação de um imóvel que já poderia estar revitalizado e implantado como uma grande âncora para o desenvolvimento dos bairros de Vila Mathias, Macuco e arredores.

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