Sábado, 20 Abril 2024

No início do século passado, mais precisamente no ano de 1907, quando na cidade portuária do Rio de Janeiro nascia Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, ainda prevalecia no Brasil um gosto estrangeiro. Grandes transformações ocorriam na capital federal nesta primeira década dos 1900, como a construção da Avenida Central com seus novos edifícios. As novidades surgiam no contexto do amplo programa de reformas urbanas e medidas de saneamento público empreendidas pelo prefeito carioca Pereira Passos, mas seguiam o modelo do plano de urbanização implantado em Paris pelo barão Haussmann.

Foto: www.niemeyer.org.br

Renovação urbana na cidade do Rio de Janeiro na primeira década do século XX

A Avenida Central caracterizou-se como símbolo da chamada Belle epoque carioca, quando o entendimento predominante na sociedade brasileira era de que agora a capital civilizara-se. Ícones arquitetônicos como o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro materializavam o estilo historicista.

Ainda como estagiário de arquitetura, em 1932, Oscar Niemeyer começou a tomar gosto pela arquitetura moderna, no escritório de Lúcio Costa, profissional que já se negava às encomendas para projetos em estilo histórico (eclético). Acompanhou pessoalmente o mestre do modernismo, Le Corbusier, que vem ao Brasil a pedido do presidente Getúlio Vargas como consultor da equipe que elaborava o projeto para o edifício do Ministério da Educação e Saúde (MES) no Rio de Janeiro.

Do MES para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de New York (USA, 1939) e ao conjunto de Pampulha (Belo Horizonte, 1940-43) veio a consagração. As superfícies curvas de concreto armado passam a dominar a obra de Niemeyer, seja em planos ou volumes: a Igreja de São Francisco de Assis e a Casa do Baile de Pampulha, as marquises e pavilhões do Parque Ibirapuera, o edifício Copan, as construções de Brasília e tantas outras ao longo de 80 anos de profissão, muitas vezes, como disse o poeta e calculista Joaquim Cardozo (1897-1978): “uma exuberante exposição de averticalismo”.

No feriado da Proclamação da República no ano em que Niemeyer completou 100 de vida e apenas um de seu segundo casamento, a jornalista Renata Granchi, do G1, publicou a declaração do mestre da arquitetura, proferida em 2006, em uma entrevista para a repórter Sandra Moreyra, da TV Globo: “O casamento é uma decisão inevitável. É natural, não merece discussão ou comentário. Tem que continuar vivendo. Não tem jeito, né? A vida nos leva pra onde ela quer. Cada um vem, escreve sua historinha e vai embora. Não vejo segredo em levar a vida”.

A vida também não encontrou mais mistérios para transportar o arquiteto neste último 5 de dezembro de 2012. Ele voou leve, num balão dirigível, semelhante à forma da arquitetura brasileira que concebeu e materializou no mundo.

Nos ensina a sonhar
mesmo se lidamos
com matéria dura:
o ferro o cimento a fome
de humana arquitetura.

Nos ensina a viver
no que ele transfigura:
no açúcar da pedra
no sono do ovo
na argila da aurora
na pluma da neve
na alvura do novo.
-Oscar nos ensina
que a beleza é leve. 

Lições de Arquitetura, in Toda Poesia por Ferreira Gullar

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