Como sabemos, ou conforme nos contaram, no dia 21 de abril de 1500, a esquadra de Pedro Álvares Cabral avistou algo seco no mar, além de suas próprias naus. Eram os primeiros sinais de terra próxima. No dia seguinte, já encontraram o monte batizado de Pascoal.
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O primeiro contato com os índios coube a Nicolau Coelho, o comandante de uma das naus. Como a região em que estavam não era muito favorável a uma longa permanência, os portugueses levantaram âncora e navegaram algumas léguas para o norte, até se deterem num local, que chamaram de Porto Seguro.
Ali, em praias desconhecidas, novos contatos e trocas de presentes com os índios. Provavelmente um misto de curiosidade, solicitude e espanto levou à boa receptividade dos habitantes da nova terra.
Lembro agora que, em setembro do ano passado, o escritor Zuenir Ventura foi a Lisboa, lançar seu livro “Inveja-Mal Secreto” e falando sobre a viagem, ele revela que se emociona sempre ao relembrar a epopéia dos descobrimentos e as glórias marítimas portuguesas dos séculos XV e XVI.
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“Mas o que mais me toca é evocar o Velho do Restelo, o episódio dos Lusíadas mais carregado de símbolos. A população na praia do Restelo para se despedir dos navegantes que partiam para as grandes conquistas e aquele velho, “com um saber só de experiências feito”, estragando a festa, dizendo que aquela aventura não ia dar certo porque atrás do desejo de descoberta do novo, havia a vaidade, a “vã cobiça” e a “glória de mandar”.
Até hoje se discute para saber quem tinha razão, se o Rei lançando o país “por mares nunca dantes navegados” ou se o sábio e prudente “velho de aspeto venerando”, que vislumbrava a barbárie e a violência que surgiria por trás das conquistas e descobertas.”
Aquela enorme distância cultural a qual nos referimos na semana passada, permaneceu como marca da constituição do Brasil. Assim como a nação formou-se com um alto índice de miscigenação, também criou uma espécie de racismo oculto, separando inicialmente índios, negros e brancos, em seguida, nativos mestiços e europeus e, logo depois, pobres e ricos.
O economista José Pascoal Vaz, em sua tese “Desigualdade Social e Produtividade Social no Brasil, 1960-2000”, cita Celso Furtado: “... como tantos outros pensadores, passou a vida denunciando o desprezo das elites pelo povo. Analisando a formação cultural brasileira, Furtado afirma: O distanciamento entre elite e povo será o traço marcante do quadro cultural que emergirá como forma de progresso entre nós. As elites, como que hipnotizadas, voltam-se para os centros de cultura européia. O povo era reduzido a uma referência negativa, símbolo de atraso, atribuindo-se significado nulo à sua herança cultural não-européia e negando-se valia à sua criatividade artística”.
De outro modo, o sol escaldante do meio-dia e o ar fresco das madrugadas do cais, construído pelo trabalho, tanto do mestiço nativo, como do imigrante europeu ou asiático, diminuiu as diferenças da gente portuária. A estes trabalhadores, o mérito pela obra.