Se considerarmos a enorme distância cultural que separava os índios brasileiros dos navegadores portugueses, a realização de uma missa em Porto Seguro (Bahia), no domingo, dia 26 de abril de 1500, representou um excelente "contato imediato". A cena foi pintada por Victor Meirelles de Lima (em 1861), retratando o Frei Henrique Soares na celebração da primeira missa no Brasil. Assistida por portugueses e nativos brasileiros, a cerimônia anteciparia os esforços de catequese que viriam a ser empreendidos pelos jesuítas.
No século XIX, a riqueza de detalhes da pintura rendeu homenagens do júri do Salão de Paris a Meirelles de Lima, fato inédito para um artista brasileiro até então. A obra ilustrou muitos livros didáticos de história na década de 1960, lembra? Eternizou a versão histórica oficial do Descobrimento do Brasil e também foi criticada pelo "excesso de imaginação" (leia mais)
Portugal era uma nação mercantil, ansiosa para estabelecer rotas comerciais seguras com as principais nações do Oriente. Preparou uma poderosa esquadra com treze navios, comandada pelo alcaide-mor Pedro Álvares Cabral. A missão oficial da frota, que partiu de Lisboa em março de 1500, transportando mil e duzentas pessoas, era fundar uma feitoria em Calicut, na Índia.
Os navios desceram na direção sudoeste, cruzaram a linha do Equador e chegaram em abril à costa do atual estado da Bahia (Brasil). Dois anos antes, em 1498, Vasco da Gama, descendo para o sul, ao longo da costa africana e depois, subindo na direção nordeste, já havia encontrado Calicut.
O enorme desvio de rota feito por Cabral sugere aos historiadores a hipótese de um descobrimento proposital.
Camões, em "Os Lusíadas", referiu-se à opinião corrente, no tempo de Vasco da Gama, de que havia terra a oeste da África:
"Terra que Anteu a um tempo possuiu
deixando à mão esquerda, que à direita
não há certeza doutra, mas suspeita."
(Canto V)
A frota de Cabral avistou um monte na tarde de 22 de abril de 1500. Como estavam na semana da Páscoa, os navegadores batizaram-no de Monte Pascoal. Dez dias depois, em 2 de maio, o comandante já reiniciava viagem, desta vez rumo a leste, até encontrar de fato a Índia.
A breve estadia de Cabral teria sido uma formalidade, um simbólico "tomar posse" ?
A expedição chefiada por Martim Afonso de Souza entre 1530 e 1532 teve mais resultados concretos em termos de colonização do que a de Cabral. Sua frota combateu e aprisionou corsários franceses; encontrou homens brancos, remanescentes de expedições anteriores (Diogo Álvares, o "Caramuru" e Francisco de Chaves, o "Bacharel de Cananéia") e fundou vilas como a de São Vicente.
Na próxima semana, continuaremos a navegar nestas águas brasileiras.
