Sexta, 29 Março 2024

Encerramos a “Primavera dos Museus” em semana decisiva às eleições municipais no Brasil. Esta conjugação de temas nos gerou um questionamento. Qual a relação entre guardar e representar?

A historiadora e mestre em Ciência Política, Letícia Julião, abre o seu artigo “Apontamentos sobre a História do Museu” com um trecho da poesia de Antônio Cícero a respeito de uma das funções do museu: guardar.

Guardar...Guardar...Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda nada.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la,
Mirá-la por admirá-la,
Isto é, iluminá-la e ser por ela iluminado.
Estar acordado por ela
Ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
(Antônio Cícero)

Foto: Jorge Soares 

Gaivota sobre a praia. Algar Seco, Carvoeiro, Algarve - Março de 2009

Os filósofos João Cardoso de Castro e Murilo Cardoso de Castro discorrem sobre o significado da palavra “representar”.

"Representar tem vários sentidos. Em primeiro lugar, designa-se com este termo aquilo por meio do qual se conhece algo; nesse sentido, o conhecimento é representativo, e representar significa ser aquilo com que se conhece alguma coisa. Em segundo lugar, por representar entende-se conhecer alguma coisa, após cujo conhecimento conhece-se outra coisa; nesse sentido, a imagem representa aquilo de que é imagem, no ato de lembrar. Em terceiro lugar, por representar entende-se causar o conhecimento do mesmo modo como o objeto causa o conhecimento". No primeiro caso, a representação é a ideia no sentido mais geral; no segundo, é a imagem; no terceiro, é o próprio objeto. Esses são, na realidade, todos os possíveis significados do termo, que voltou a ter importância com a noção cartesiana de ideia como "quadro" ou "imagem" da coisa.

Os sociólogos costumam dizer que os antigos gregos inventaram a política, embora alguns observem que não se pode falar de uma invenção, mas sim de uma nova forma de política. Estes consideram que é melhor afirmar que na Grécia Antiga foi institucionalizada a democracia, isto é, o poder na esfera pública, não exercido de forma privada. Ficaram conhecidas as reuniões nas Ágoras ou praças públicas, nas “polis” – comunidades políticas das cidades gregas, como Atenas.

Foto: www.agoragrega.com

Pintura de Péricles, expoente da democracia Grega,
na Ágora Ateniense, com a Acrópole ao fundo)

Uma das importantes diferenças entre a democracia ateniense do século V a.C. e as democracias contemporâneas é que naquela política não havia o Estado, a instituição que caracteriza a política moderna.  Os atenienses praticavam a democracia direta. Pode-se dizer que o político e o social estavam unificados. O cidadão caracterizava-se como um ser político e não havia representantes. Desta forma, toda decisão no campo político era também uma conquista social. Na democracia moderna, o povo exerce sua soberania através de representantes – os políticos.

Guarde bem os nomes dos seus representantes políticos, não os percam de vista, fique de olho neles, desperte-os se for preciso para exercer a verdadeira função da democracia.

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