Com certeza, vivemos dias de globalização. Em pleno fevereiro de Carnaval (40 °C), mais de um milhão de pessoas aglomeram-se para tentar assistir ao espetáculo da banda de rock Rolling Stones. Um número maior que esse pára em frente às telas de TV, aonde as mágicas imagens chegam ao vivo.
Surpreendentemente, a cidade do Rio de Janeiro consegue concentrar, na praia de Copacabana, tantas pessoas de várias regiões do Brasil e também de outros países sem registrar graves atos de violência. Ponto para o Brasil!
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Quase não se falou, mas antes dos astros do “Stones”, apresentaram-se três atrações brasileiras: o DJ Marcelo Janot, o grupo Afro Reggae e a banda Titãs.
Dois dias depois, outro grupo de rock – a banda irlandesa U2 lota o Estádio do Morumbi em São Paulo. O vocalista Bono Vox faz do show “Vertigo” uma manifestação política em defesa da coexistência das religiões e dos direitos humanos.
No entanto, mergulhando nas tradições carnavalescas, assim como ocorria há algumas décadas, ainda com certa majestade, aparecem Arlequim, Pierrô e Colombina. A tematização desses tipos foi constante na virada do século XIX para o século XX.
Em 1892, data histórica para o Porto de Santos, quando se inaugurou o cais retificado, também conhecido como o “porto organizado”, surgiu a ópera “I Pagliacci” (Os Palhaços) de Ruggero Leoncavallo. No estilo realista italiano, registrava uma história do cotidiano – o conflito do triângulo amoroso (Pierrô, Arlequim e Colombina).
Em 1905, Picasso pinta “Família de Saltimbancos” e outros quadros com esses personagens.
O brejeiro amante Arlequim nem sempre espelhou a Folia de Momo. Uma descrição da Normandia, datada de 1100, cita como rei dos exércitos um certo Herlechinus, que viria do Harilaking (Harila-King) anglo-normando. Ele teria sido um poderoso e violento rei que comandava uma tropa de homens-bestas.
Passando da forma primitiva para o palco da comédia, já com a roupa esfarrapada e com estilizados losangos, o Arlequim sofre metamorfoses. A moderna teoria da carnavalização mostra como o imaginário civiliza as imagens arcaicas. Aquele mágico e malandro das tribos pode ser encarnado no “Macunaíma” de Mário de Andrade.
Assim também como a imagem do Arlequim se enriquece com a mitologia e com a antropologia, as figuras do Pierrô e da Colombina ganham significados. Deixando de ser apenas fantasias de uma festa carnavalesca, passam a estruturas simbólicas do nosso drama porto-cidade. O Porto é o Pierrô, A Cidade é a Colombina e o Turismo está representado pelo Arlequim.
A cidade de Santos deve receber aproximadamente 1 milhão de turistas no período de folia. O terminal de passageiros registra recordes e o porto, apesar de todas as dificuldades com a infra-estrutura, tem crescido ano a ano.
A cidade, envolvida com seus dois amores, o porto e o turismo, pode estar resolvendo, mesmo que aos trancos e barrancos, o conflito que a Colombina não conseguiu resolver.