O jornalista e historiador, Alessandro Atanes, num texto “geofágico” (“Comer a margem e a paisagem”), apoiado em belas obras literárias dos poetas Ademir Demarchi e Alberto Martins, falou sobre o impacto da presença no espaço urbano e a função das grandes embarcações. Elas viajam e proporcionam viagens, que podem ou não ser boas.
mais pesados que a água, bóiam
vorazes engolidores de contêineres
interferências paquidérmicas
que deslizam pelos olhos e viajam
(Trecho de “Engolidores de contêineres”, de Ademir Demarchi, do livro “Costa a Costa”, Realejo / Facult, 2012)
Da calçada vejo
a quina de aço
– feito cunha –
na paisagem:
a Pouca Farinha
o forte em ruínas
o Góes… e por aí vai,
devorando a outra margem.
Boa viagem.
(Trecho de “Da Ponta da Praia”, de Alberto Martins, do livro “Cais”, Editora 34, 2002)
Foto: Iris Geiger, em janeiro/2008
Cruzeiro marítimo partindo do Porto de Santos
A aparente agressividade dos navios, que passam tão perto do passeio público no bairro da Ponta da Praia, na cidade portuária de Santos, não costuma ser muito reconhecida. É verdade que já houve manifestações contra o apito das embarcações, mas esta poluição sonora também é controversa.
Em geral, o que se vê é o interesse e até o deslumbramento na ocasião da passagem dos navios. Os transatlânticos especialmente provocam toda aquela agitação nas temporadas de cruzeiros.
...um navio de comprimento igual ou superior a 100 metros deve dispor também de tantã cujo som e timbre não possam ser confundidos com os do sino. Qualquer navio pode completar os sinais de apito, prescritos no Regulamento, com sinais luminosos repetidos, segundo as necessidades, durante as manobras.
Do “Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos no Mar”; veja em www.ancruzeiros.pt/ancsonoros.html
O internauta santista João Roberto Gomes de Sousa, comentando nosso artigo de 2 de março de 2009, dizia: “Por que este amor aos navios que apitam e partem se não quero partir em nenhum?..., ou seja, os que ficam em terra com saudades dos seus familiares e amigos que partem..., tem a oportunidade de manifestar-se às margens de nossas praias e avenidas retribuindo com os acenos e mesmo na queima de fogos de artifícios, e assim registrar tudo isso com fotos e filmagens... este momento festivo, e com certeza quero as imagens sonoras ...sim. Apenas pondero aos excessos praticados por alguns navios desnecessariamente.”
As imagens sonoras animam mais o espetáculo. Será que Santos é mesmo a única cidade portuária com plateia para assistir estes gigantes deslizando bem à frente de nossos narizes?