A noite está escura. A cidade cintila com milhares de luzes – brancas, amarelas e vermelhas. O calçadão da praia brilha com as modernas luminárias que espiam o povo andando a pé e de bicicleta. Não olham os carros? Não. Eles têm luz própria e ficam indiscretamente, uns apertando os outros, dos lados, à frente e atrás.
Com tanta luz, como se pode ver as estrelas? Com tanta luz, por que a noite está escura?
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No manto escuro de águas salgadas, desliza altaneira uma luz amarela. Um balão? Uma aeronave? Não tão alto! Da altura de um mastro sobre o convés de um cargueiro. É um navio que deixa o cais e parte para mais uma jornada neste imenso marzão brasileiro.
Quase não se percebe sua silhueta. Com atenção, vemos as pálidas luzes insinuando a popa. Fiquei preocupada. E se outra embarcação descuidada abalroar o navio? Minutos depois, no sentido contrário, entrando no estuário santista, desfila outra luz amarela, à mesma altura da primeira. Contrastando com a escuridão do horizonte, ela segue, bem abaixo das estrelas.
Ansiedade estulta! As embarcações não se chocaram, mas continuei pensando nos riscos da navegação noturna. Por que os navios iam praticamente às escuras, como navios fantasmas? Senti uma grande falta do espetáculo da lua cheia. Aliás, ansiei também por outros espetáculos.
Como pode o Brasil estar apenas à frente do Haiti no índice anual de crescimento econômico?
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O ano de 2005 despediu-se com lua minguante. Está faltando a claridade que define bem as coisas. Espero que a letargia de algumas cidades portuárias brasileiras seja temporária como a fase da lua. Ao menos, à noite de 31 de dezembro, já era lua nova. Estamos caminhando para a fase crescente e logo chegará ela, resplandecente – a lua cheia.
“Comece com o possível e daí a pouco estará fazendo o impossível”, garante um ditado chinês.
Se alguém quiser fazer a gentileza, por favor, me diga porque os navios navegam às escuras.
