Algumas vezes, esse ditado costuma ser usado para justificar escolhas profissionais que se revelam infelizes. Também condiciona os talentos ou os defeitos a um padrão familiar, estático. “É uma generalização que limita e justifica as ações dos pais e dos filhos, para o bem e para o mal”, diz o psicólogo junguiano, Carlos Bien.
Há casos, sim, que se pode herdar uma voz ou o talento artístico dos pais. Lembrei da Maria Rita, filha da Elis Regina. E, lógico, há filhos totalmente diferentes dos pais. “Nem todo filho de peixe é peixe. Ainda bem”, assegura o psicólogo.
Assim também, em geral, um mito não é a pessoa cujo corpo ocupa durante um período de tempo. Vejamos, por exemplo, o Édson Arantes do Nascimento, lembrado recentemente pelos seus 65 anos, está longe de ser o Pelé que fez da cidade de Santos e do modesto estádio Urbano Caldeira da Vila Belmiro patrimônios conhecidos no mundo todo. O Pelé, que vive na cabeça das pessoas, na memória dos que o viram jogar e fazer mágica, como em março de 1961, passando por todos os jogadores do Fluminense, no Maracanã, marcando o gol pelo Santos F.C., é o “Rei”, o mito.
Talvez o poeta Carlos Drummond de Andrade, tenha se identificado com as qualidades do jogador de futebol, considerado o melhor e mais popular de todos os tempos, quando escreveu: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé.” (Da obra “Quando é dia de futebol”, publicada em 2002).
Na frase de Drummond, as vírgulas fazem toda a diferença. Entretanto, um minuto de reflexão sobre o significado da trajetória de Pelé para o Brasil, sobre a importância da Era de Ouro do futebol brasileiro, protagonizada por Pelé, para a construção da auto-imagem nacional, linda, forte, sem preconceitos e nos reconectamos com o momento atual.
O ministro brasileiro da Cultura – Gilberto Gil – ajudou a aprovar em Paris, a Convenção sobre a Proteção e a Promoção das Expressões Culturais (Convenção da Diversidade Cultural). Os EUA e Israel votaram contra, temendo que a Convenção possa alterar o processo de liberalização comercial internacional, empreendido nos últimos anos.
Esta norma aprovada durante a 33ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,a Ciência e a Cultura (Unesco), realizada de 3 a 21 de outubro, tem como objetivo proteger as manifestações artísticas e culturais de cada país e, dentro destes, das diferentes etnias ou povos. A maioria dos países-membros da Unesco acredita que a Convenção da Diversidade Cultural aprovada é um freio ao risco de colonização cultural e homogeneização.
A cidade portuária configura-se como um campo fértil para a globalização, mas também para a riqueza da pluralidade, onde normalmente circulam diferentes idéias e produtos.
E justamente para não se cair no equívoco das generalizações de que “todo filho de peixe...”, deixo aqui o destaque à importância do papel de cada cidadão e da identidade das sociedades.