Na dualidade dos pólos opostos - alienação e engajamento – os santistas tendem ao segundo pólo. É como o ideal quase épico defendido pelo Pai do Existencialismo, J. P. Sartre, que chegou a desprezar o próprio título e ficava contrariado quando, já sexagenário, não era preso nas passeatas de protesto junto aos estudantes e militantes socialistas franceses.
A cidade de Santos caracterizou-se pelo destaque em momentos decisivos da história nacional. Sua contribuição no processo da Independência da Nação, na luta pela Abolição dos Escravos, na Proclamação da República e também em questões do século XX, como o restabelecimento da democracia nas três esferas do poder (federal, estadual e municipal) mantém o município numa posição de vanguarda.
O orgulho de “ser santista” surgiu como uma defesa da elite local às intervenções externas ou ao receio de ver diminuído o poder da cidade. Apareceu, por exemplo, nas últimas décadas do século XIX, quando o Estado ou grupos econômicos intervieram em Santos, emergindo então uma espécie de xenofobia, principalmente nas relações com o planalto. “É assim que podemos entender as reações locais às visitas do imperador e à recusa em receber uma doação feita quando de uma das muitas epidemias que assolavam a cidade, pois que parecia esmola e não auxílio efetivo”, revela G. Álvaro em “A campanha sanitária em Santos”, São Paulo, 1919.
Agora, no século XXI, são pelo menos três as cidades da região mais interessadas em encontrar formas de entrosamento com o Porto de Santos (entenda-se também com o Governo Federal) para que a relação porto-cidade seja sinônimo de desenvolvimento: Santos, Guarujá e Cubatão.
O forte de São João de Bertioga, construção de 1532, implantada pelos portugueses na praia da Enseada para proteger a região das investidas dos piratas, abrigou no último dia 25 de julho a 90ª Reunião do Condesb – Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista. Apesar do prefeito de Santos e presidente da Associação Brasileira de Municípios Portuários (ABMP), J. P. Tavares Papa, considerar inoportuna a pauta para aquele fórum, o tema “regionalização do Porto de Santos” foi discutido. Papa explicou que o Conselho deveria concentrar-se nos assuntos prioritários já eleitos – saúde e transportes.
O prefeito de Guarujá e secretário da ABMP, Farid, concordou com o pref. Papa, esclarecendo que o tema da regionalização vem sendo debatido na Associação. Este órgão inclusive está pleiteando, junto à Casa Civil da Presidência da República, uma vaga no CAP (Conselho da Autoridade Portuária) e uma diretoria específica para tratar da relação porto-cidade.
No sentido do aperfeiçoamento do binômio porto-cidade, os três prefeitos assinaram, em quatro de agosto, uma carta de intenções para formar um consórcio visando à implantação de empreendimentos e melhorias no Porto de Santos e nas cidades limítrofes.
Assim como falávamos no início do texto, a tendência é para o engajamento e até nos inspira a cantar o refrão de “Que se danem os Nós” de Ana Carolina e Totonho Villeroy.
Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome
Ou eu quis escutar
...
Que se danem os nós.
Foto: Alcino Gonçalves