Sábado, 23 Novembro 2024

A dinâmica do saber local.

 

A Administração Municipal de Santos já reivindica, há algumas gestões, a revitalização dos armazéns (de 1 ao 4) localizados no Centro da cidade. Recentemente, em reunião com a diretoria da Codesp e PMS, uma nova perspectiva foi vislumbrada: a transformação dos armazéns ociosos (de 1 ao 8) em um complexo turístico-cultural. 

 

Viabilizando o projeto, está o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento. Este deve aplicar uma verba (a fundo perdido) de US$ 146 700, 00, destinada aos estudos econômicos do projeto. O termo de cooperação técnica entre Município e Autoridade Portuária já existe e apresenta-se como um importante passo para a consolidação do projeto de revitalização do centro histórico de Santos – “Alegra Centro”. A proposta está baseada na experiência do porto de Marselha.

 

Deste ponto, estendemos nosso olhar hoje para discorrer um pouco sobre um trabalhador do pensamento, que também é da França: Michel Serres. Em 1999, quando ele esteve em São Paulo para uma série de conferências no quadro do 1º Congresso Internacional de Desenvolvimento Humano, em meio a um amplo espectro de temas, versou sobre as transformações em curso no mundo contemporâneo. Tratou com especial atenção sobre a “sociedade pedagógica” e as novas concepções a respeito do corpo e dos seres vivos, que se vêm forjando à luz dos novos conhecimentos da Biologia.

 

É oportuno destacar que este brilhante filósofo nascido em 1930, no sul da França, vem de uma linhagem de marinheiros camponeses da Garonne, lembrando que a sua exigência de compreender o sentido das coisas se aplica também à própria existência e ao conhecimento de suas raízes.

 

Boa parte de sua trajetória intelectual pode ser explicada por pertencer a uma geração que cresceu sobre os estrondos dos canhões e assistindo a algumas das maiores atrocidades do século XX. Pertence, portanto a uma geração que “se forma carnalmente nesse ambiente atroz e se mantém, desde então, afastada de toda política: o poder continua a significar para ela apenas cadáveres e suplícios”, segundo suas próprias palavras.

 

Contra a proliferação da violência, Serres opõe uma racionalidade diferente àquela do universal e do particular, mas sim uma ciência e uma sabedoria do local. Analisa também a importância da informação, referindo-se ao “laço social”, que até recentemente recaía sobre o dinheiro (a circulação da moeda) e nos últimos tempos, cada vez mais, constitui a economia imaterial onde a moeda é o saber.

 

Qualquer pessoa, inclusive as mais idosas, pode ter acesso a um número muito grande de informação, em qualquer lugar. Antigamente se fazia a crítica às bibliotecas por permitir que uma criança pudesse ver qualquer livro, a qualquer momento. A mesma crítica que recebe hoje a internet.

 

“Já envelhecido, nosso mundo das comunicações está parindo, neste momento, uma sociedade pedagógica, a das nossas crianças, onde a formação contínua acompanhará, pelo resto da vida, um trabalho cada vez mais raro. As universidades à distância, em toda a parte e sempre presentes, substituirão os campi, guetos fechados para adolescentes ricos, campos de concentração do saber. Depois da humanidade agrária vem o homem econômico, industrial; avança uma nova era, nova, do conhecimento. Comeremos saber e relações, mais e melhor do que vivemos a transformação do solo e das coisas, que continuará automaticamente.”

 

Michel Serres. A Lenda dos Anjos.

   São Paulo: Aleph, 1995, p.55.

 

Na próxima semana, continuaremos, junto com Serres, algumas considerações sobre as transformações do espaço e o laço social. 

 

 

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