Sábado, 23 Novembro 2024

Os moradores de Vicente de Carvalho, às margens do canal do Porto de Santos, estão sentindo as vibrações das explosões que aos poucos vão quebrando a grande rocha de Itapema. O trabalho necessita de cuidadoso monitoramento para garantir a segurança do entorno urbano e minimizar os impactos no meio ambiente.

Na última sexta-feira, a derrocagem interditou o tráfego de embarcações nas proximidades da rocha entre às 15h30 e 18h30. Os trabalhos estão programados para prosseguimento, sempre com alguns períodos de interdição do canal, até o dia 26. O objetivo é a ampliação da calha de navegação do Porto de Santos, aprofundamento e alargamento, possibilitando tornar o estuário uma “via de mão dupla” e facilitando também o acesso de grandes embarcações, maiores até que o porta-aviões São Paulo. Este gigante da marinha brasileira, que parece um edifício de vinte andares flutuando à frente de nossos olhos. A embarcação mede 267 metros de comprimento e 62 metros de altura.


Detalhe de imagem aérea do Google Earth

Sobre a sólida base rochosa de Itapema, localizada na direção do armazém 12, mas do outro lado (na margem esquerda), há uma fortaleza construída com blocos de pedra argamassados com óleo de baleia e cal de sambaqui. Posicionada estrategicamente, no século XVII, figurava como “importante praça militar" no mapa da Capitania de São Vicente. É uma das mais antigas edificações do Brasil. Foi erguida no século XVI com a finalidade de proteger o porto de Santos dos invasores. Defendia a margem oriental do estuário e de sua muralha avistava-se a então Vila de Santos.

Imagem: jornalista Miguel Netto, de São Vicente

João Massé: "Fortaleza de Itapema, no Rio
defronte da Villa de Santos" (c. 1714). Arquivo
Histórico Ultramarino, Lisboa

Foto: Carlos Zundt

Guarita de vigilância com o Canal do Porto ao fundo

De modo semelhante à grande parte dos bens hoje considerados como patrimônio cultural, a Fortaleza do Itapema também passou por sucessivas épocas de abandono, reconstruções e reformas. Conforme registrado no programa “Circuito dos Fortes da Costa da Mata Atlântica” da AGEM (Agência Metropolitana de São Paulo), em 1670, o capitão da Fortaleza era o ilustre paulista Pedro Taques de Almeida, que se encarregou de executar a primeira obra de ampliação.

Entre 1735 e 1738, a base militar foi novamente reconstruída e aparelhada com artilharia de grosso calibre. Em 1836, o marechal Daniel Pedro Müller relata que a Fortaleza tinha uma guarnição e um oficial. Os últimos canhões que se viram sobre a muralha em defesa do estuário datam de 1850. Em 1883, houve um grande incêndio, que deixou a edificação totalmente arruinada.

Foto: http://www.panoramio.com/photo/14408783

Fortaleza de Itapema, por Marcelo Ricardo

Queremos acreditar que as novas obras de modernização do Porto de Santos, como a extração das rochas de Teffé e de Itapema, executadas pela Secretaria de Portos (SEP) com verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), priorizem também a preservação do nosso rico patrimônio cultural.

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