O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor
Trecho de “O Teu Cabelo Não Nega”
Composição: Lamartine Babo-Irmãos Valença
Uma cantiga pode ser um patrimônio cultural de uma comunidade, sendo transmitida por gerações. Um exemplo é a conhecida “O Teu Cabelo Não Nega”. Você sabe quem compôs esta marchinha de carnaval e quando?
A resposta mais conhecida é Lamartine Babo em 1929 (o ano da terrível crise econômica e dez anos antes do início da 2ª Grande Guerra Mundial). Esta resposta motivou uma ação judicial dos verdadeiros autores contra a Gravadora Victor do Rio de Janeiro. São eles: João e Raul Valença. Os irmãos Valença, mais conhecidos pelos frevos e maracatus de Pernambuco, compuseram “Mulata”, inspirados em uma pessoa da época. A Mulata de Pernambuco passeava pela Avenida Guararapes e deve ter causado frisson elétrico porque a letra original falava em corrente da Trama. A “Trama” era um modo popular de chamar a empresa concessionária de energia elétrica– Pernambuco Tramways.
Mantendo toda a melodia da canção dos irmãos Valença e o estribilho, Lamartine Babo acrescentou-lhe estrofes com outro arranjo e a lançou no Rio de Janeiro com o título de “O teu cabelo não nega”. Não deu outra, protesto da dupla de Pernambuco. Ação ganha! A gravadora foi obrigada a pagar indenização aos legítimos autores, adicionar seus nomes na autoria da composição e dividir os direitos autorais.
Talvez caracterizando o descompromisso ou a displicência do carnaval, hoje o povo ainda canta sem pensar: “...mas como a cor não pega, mulata...eu quero o teu amor.” E se a cor pegasse? Será que os autores ainda carregavam a mentalidade escravocrata rascista da época do Império?
Lamartine, pouco tempo depois compôs outra marchinha, então com versos ternos e afetuosos, substituindo a palavra mulata por morena. Novo sucesso de carnaval: “Linda Morena”.
Linda morena, morena,
Morena que me faz penar.
A lua cheia que tanto brilha
Não brilha tanto quanto o teu olhar.
Foto: www.memorialpernambuco.com.br
Avenida Guararapes, o antigo cartão postal do Recife
A Avenida Guararapes, na terra dos irmãos Valença, cidade de Recife, foi projetada no final da década de 1920 pelos engenheiros José Estelita e Domingos Ferreira e pelo arquiteto Nestor de Figueiredo, com a finalidade de resolver o trânsito e organizar o comércio da área central (Bairro de Santo Antônio). Levou dezessete anos para ser concluída, sendo que estava pronta em 1937, ano da instalação do Estado Novo de Getúlio Vargas. Destacavam-se as primeiras edificações: o Cinema Trianon e o prédio dos Correios.
Hoje, lá em Recife ou aqui em Santos, a folia que já contagiava milhares de foliões, agora explode em euforia monarquista – sob o reinado de Momo.
Os pernambucanos abriram a folia oficial na Praça do Marco Zero, bairro do Recife Antigo, com Naná Vasconcelos e 700 batuqueiros. O samba não é predominante nos palcos de Recife e Olinda. Reinam o frevo, o rock, o pop e o folclore, com os maracatus, os papangus, os bois, os caboclinhos, os blocos líricos e os bonecos gigantes.
Foto: www.spiegel.de
Bloco do Galo da Madrugada no centro de Recife
A legenda no idioma alemão (versão para português) diz: Fenômeno de massa do carnaval no Recife, nordeste do Brasil, onde milhares se acotovelam nas ruas do centro.
Tentando superar os aspectos negativos do evento, como violência, confusão, bebedeira e sexo sem compromisso, na Passarela Dráusio da Cruz (Zona Noroeste – Santos) aconteceu o desfile das escolas de samba. Apresentaram-se 15 agremiações, divididas em grupos especial e de acesso. Nas tendas da praia, o carnaval vai até esta terça-feira.
E, para terminar, lembramos que também está em festa a mais famosa vila do mundo. Qual? É claro, aquela que abriga o estádio do Peixe – Estádio Urbano Caldeira. A Vila Belmiro completou um século no dia 14 de fevereiro. Parabéns, centenária Vila!