Sexta, 22 Novembro 2024

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou

Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou

A moça feia debruçou na janela

Pensando que a banda tocava pra ela

 

Francisco Buarque de Holanda, A Banda

 

A formação das cidades brasileiras aparece como tema de interesse de arquitetos, urbanistas, artistas, historiadores e diversos estudiosos dos centros urbanos. No Brasil, entre os séculos XVI e XX, começam a agrupar-se as vilas coloniais, as cidades da mineração, os centros agrícolas, os municípios do Império e as cidades novas da República. Assim, por exemplo, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, Ouro Preto, Mariana, Olinda ou Porto Alegre apresentam suas peculiaridades.

 

O conjunto de construções, que compõe o corpo edificado da cidade, constitui o abrigo das atividades cotidianas.

 

“À maneira de contas num colar, na cidade brasileira tradicional, as casas térreas e os sobrados se amoldam à topografia. Apertados uns contra os outros, disputam a frente para as ruas, aspirando maior destaque na cena urbana. Competem, ainda mais, por abrirem para os largos e por vislumbrarem os prédios públicos e religiosos notáveis.” (Murillo Marx, Cidade Brasileira)

 

A Independência do Brasil e algumas décadas mais tarde, também a República, trazem diferentes necessidades e aspirações que refletem na arquitetura e no urbanismo. Novos materiais, geometrização e simetria nas fachadas, eliminação dos beirais dos telhados, utilização das platibandas que passam a esconder a cobertura, construções de casas com porão e de prédios exclusivos para lojas e escritórios.

 

A posição privilegiada de corredor de exportação do café garante à cidade de Santos, em meados do século XIX, uma grande importância. Em 1822, a Vila ainda não tinha cinco mil habitantes. Em 1854, a população da já então Cidade de Santos era de 7885 habitantes. Isso apesar das epidemias (febre-amarela, varíola, peste bubônica e outras moléstias).

 

Se hoje a sociedade encontra dificuldades para deter o crescimento de uma pandemia, imagine naquela época. No entanto, na cidade portuária de Santos, tivemos o privilégio da implantação do Plano de Saneamento de Saturnino de Brito, acompanhado de parte do seu Projeto de Expansão da Cidade. Assim, largas avenidas que possibilitam a livre circulação dos ventos e os canais de mar a mar, permitindo o fluxo das marés, melhoraram bastante a qualidade ambiental urbana. 

 

A manutenção da saúde da cidade é um desafio administrativo, que ultrapassa a gestão burocrática, pousando na educação e conscientização de seus habitantes. Como garantir o livre fluxo das marés nos canais de drenagem se a população joga lixo e esgoto neles? Como preservar para as futuras gerações o patrimônio arquitetônico se o proprietário abandona o seu imóvel ao desgaste do tempo, às vezes até provocando um sinistro para apressar sua deterioração?

 

No século XXI, para a nossa felicidade, estas inquietações tem aparecido em menor número. Santos já conquistou o perfil de cidade histórica turística, reconhecida pelo Governo Federal. Encontra-se entre as 60 que se enquadram na qualificação. A valorização da história e o fortalecimento do turismo revelam-se como alternativas econômicas que fortalecem o município.

 

Foto: www.canaisdesantos.com.br

Inauguração do Canal 1 – 27/08/1907

 

Saturnino de Brito projetou os canais pensando também no curso natural dos rios e córregos existentes. O rio do Soldado foi corrigido pelo canal 1, no Paquetá e na Vila Mathias.

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