Já diz o ditado popular: só erra quem faz. Errar não é prova de burrice. Repetir erros comprovados... hum...
A maioria dos economistas contemporâneos sabe que não se consegue controlar inflação ou aumentar crescimento econômico por decreto. Não deu certo em 1700 anos antes de Cristo com o Código de Hamurabi e nem no Império Romano. O rei da Babilônia decretou o congelamento de dois preços de produtos básicos: óleo e sal. Ordenou que os infratores fossem queimados, justamente, em óleo fervente. O problema é que, com o congelamento, o produto sumiu e acabou faltando óleo para exterminar os sabotadores do “Plano Cruzado da Babilônia”. Há 1.700 anos, o imperador romano Diocleciano tentou a mesma experiência em maior escala e, apesar de seus poderes supostamente divinos, acabou provocando o congelamento seguido do ciclo clássico: deslumbramento-desabastecimento-ágio-colapso.
Detalhe da gravura em pedra do Código de Hamurabi.
“Marduk entrega a Hammurabi o poder de legislar, 1728-1686 a.e.c.)”.
Hamurabi e Diocleciano são figuras de outros milênios, mas há menos tempo, e bem perto do Brasil, os presidentes chileno (Salvador Allende) e argentino (Juan Perón) tentaram, no início da década de 70, um golpe semelhante, através do qual seriam capazes de reprimir preços e aumentar salários. No Brasil, também tivemos, no século XX, os planos frustrantes para congelar tudo por decreto.
Característico dos regimes ditatoriais, que entoam a cantiga do Estado-faz-tudo, está embutida a idéia de que tudo o que ele faz destina-se a melhorar a vida dos menos favorecidos. Entretanto, no Brasil, por exemplo, demoramos para abolir a escravidão e temos um dos mais perversos perfis de distribuição de renda do mundo. A cantiga ainda soa com as mesmas notas. "Venderei até o último brilhante de minha coroa, mas nenhum nordestino morrerá na seca", dizia dom Pedro II. Pelo que se pode ver, intacta encontra-se a coroa, no Museu Imperial de Petrópolis (RJ). Os nordestinos da grande seca de 1870 estão no cemitério, mas a alma da cultura popular mantém viva a imagem do Padim Ciço.
Na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, em torno da pessoa do Padre Cícero Romão Batista, surge a figura de um messias. Homem estudado, padre Cícero foi exercer seu sacerdócio naquela cidade nordestina. Lá, ele encontrou o povo sacrificado pela longa seca de 1870 a 1880.
O acerto no combate à pobreza costuma ser evidente quando a maioria tem acesso à riqueza. Então, aparece aquela história de que também é preciso aumentar o bolo para que tanta gente desfrute dele. Chegando ao Brasil de 2008, ou antes disso, na China do século XXI, acabaremos convencidos de que é assim mesmo.
Há três anos atrás, quando o banco internacional de investimentos Goldman Sachs agrupou Brasil, Rússia, Índia e China como os países do “BRIC”, que coletivamente representam o futuro da economia mundial, críticos consideraram o Brasil como intruso devido o seu medíocre crescimento econômico. Os índices de crescimento nacional melhoraram, favorecendo a opinião da empresa multinacional. As economias destes quatro países têm a potencialidade e a capacidade de constituírem as mais poderosas do globo.
O que falta para transformar este tempo futuro de potencialidades em real desenvolvimento presente?
Já que estamos ilustrando esta Semana da Independência com o Nordeste, um economista nordestino do tempo das vacas magras do fim do século passado, Maílson Ferreira da Nóbrega, escreveu sua resposta em livro: “O Futuro Chegou”, onde defende que o Brasil precisa de uma revolução que começa no ensino fundamental.
A independência do Brasil às amarras do medíocre crescimento e a libertação das algemas do eterno país do futuro que nunca chega estão no maior tesouro brasileiro: a criança. Cuidado especial com a saúde infantil e educação integral de boa qualidade desde a primeira infância (física e intelectual) certamente resultarão em importante diferença.
A outra ponte que deve ser construída entre o futuro e o presente é a logística na infra-estrutura deste Brasil continental. Mas esta fica para a próxima semana.
Saudações verde-amarelas!
Em tempo: Parabéns ao atleta Daniel Dias pela medalha de ouro na prova dos 100 m da classe S5 da natação nas Paraolimpíadas de Pequim.