Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado
(Trecho de “Insensatez” de Vinícius de Moraes)
Em um informe divulgado em novembro em Valença (Espanha), o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) advertiu que a temperatura média do planeta pode aumentar em 2100 entre 1,1º C e 6,4º C em comparação com os níveis de 1980-99, devido à acumulação, na atmosfera, de gases de efeito estufa causados pelas atividades humanas. Isso provocaria tempestades mais fortes, secas, inundações, aumento do nível do mar, derretimento dos pólos, incêndios e fome que irá afetar com maior severidade os países em desenvolvimento.
Representantes de ONG’’s, cientistas e autoridades governamentais, inclusive das cidades portuárias, discutem medidas para combater o aquecimento global. A grande esperança reside na descoberta de mecanismos políticos viáveis à economia mundial para o período pós-2012, ano em que o Protocolo de Kyoto expirará. O Protocolo de Kyoto é o acordo, assinado no ano de 1997, por 35 países que se comprometeram a reduzir suas emissões de CO2 em 5,2% entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990. A UE (União Européia) assumiu uma redução maior (8%).
Graças a diversas medidas de redução, a UE conseguiu diminuir os gases poluentes que despeja na atmosfera em 4,8% desde o ano de 1990. Nesse mesmo período, os EUA, que não ratificaram o Protocolo, aumentaram seu nível de emissões em 15,8%.
O vencedor do prêmio Nobel da Paz no ano passado, o ex-vice-presidente americano Al Gore, ficou ainda mais conhecido internacionalmente ao pedir que o mundo tomasse medidas firmes contra as mudanças climáticas sem levar em conta a posição dos Estados Unidos, acusado de bloquear as negociações na 13ª COP - Conferência das Partes Sobre o Clima - na ilha de Bali (Indonésia - dez/2007).
"Dessa forma, vou dizer uma verdade inconveniente: meu país, os Estados Unidos, é o principal responsável pela obstrução das negociações aqui em Bali", afirmou, naquela conferência, provocando uma grande ovação. Gore havia proposto que se deixasse "um espaço aberto" no acordo, com a esperança de que o sucessor de Bush, após as eleições de novembro de 2008, mude a posição dos Estados Unidos.
O último capítulo da 13ª COP precisou da reunião de todos os presentes contra o mais forte. Foi incluído no acordo um texto, reforçando que os países ricos transferirão tecnologia e financiarão projetos. Mas os Estados Unidos recusou a proposta, indo contra o apoio da União Européia. A África do Sul também se destacou no debate, alegando não ser verdade a acusação dos Estados Unidos de que os países em desenvolvimento se recusam a assumir responsabilidades.
No último minuto de Bali, todos estavam contra os Estados Unidos. A Conferência contou com a participação de 190 países. Perceba a conclusão: e o país acabou se rendendo, acatando, então, o acordo da Conferência da ONU na Indonésia sobre Mudança Climática.
Banhada pelo Oceano Índico, Bali é uma das 13.667 ilhas da
Indonésia, considerada uma das mais belas, com apenas
5.620 quilômetros quadrados (menor do que o Distrito Federal)
A criação do Mapa do Caminho de Bali e a aprovação de um Fundo de Adaptação para os países mais pobres e vulneráveis foram conquistas de 2007. O Mapa do Caminho é um documento que determina uma agenda de negociações e cronogramas que vão definir em dois anos uma nova série de objetivos e metas de redução de emissões de carbono para substituir o acordo do Protocolo de Kyoto.
Quatro temas prioritários foram determinados para a agenda: mitigação, adaptação, tecnologia e formas de financiamento. Negociações mais concretas deverão ser feitas na Conferência de 2009, na cidade de Copenhagen, Dinamarca. Então, o desafio da 14ª COP será costurar medidas globais que sejam um consenso entre os países e que representem um impacto definitivo na luta contra o aquecimento global.