Como profissionais de projetos, somos movidos quase sempre por ideais e sonhos. Com freqüência elaboramos planos que gostaríamos de executar, mas, às vezes, nos deparamos com a frustração do projeto não executado, engavetado ou rejeitado.
Parece ser consenso que uma das vocações econômicas da cidade portuária de Santos é o turismo de negócios, além do turismo de lazer e da prestação de serviços em geral e ainda dos especificamente ligados ao Porto.
Antes da construção do “Mendes Convention Center”, no bairro do Campo Grande, outros projetos de centros de convenções tinham sido executados. Um desses foi a proposta apresentada por profissionais vinculados à Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos para a plataforma do emissário submarino do José Menino. Lembra?
O projeto do Centro de Convenções do José Menino previa uma praça de eventos com 11.500 m² e um estacionamento para 1.330 veículos. No pavimento superior (acima do estacionamento) localizava-se o pavilhão de exposições com 2.300 m². No 3º pavimento, estaria o centro de convenções propriamente dito, com auditório, foyer e salas de reuniões. O conjunto deveria abrigar ainda áreas de alimentação, lojas de conveniência, setor de serviços e um heliporto.
Entretanto, os procuradores do Ministério Público Federal interpelaram contra o projeto do Centro de Convenções, pois entenderam, baseados na Constituição Federal do Brasil, que a praia deveria ter suas características originais restauradas.
No final da década de 70, a Sabesp deveria ter removido o aterro remanescente do canteiro de obras para a instalação do emissário de esgotos. Enquanto não ocorresse a retirada, a empresa precisaria arcar com os custos de implantar melhorias como iluminação, segurança e ajardinamento – serviços que vem sendo executados pela Prefeitura Municipal.
Ilustração mostra o antigo projeto para o
centro de convenções no Emissário Submarino
"Cabe à Sabesp, e não aos munícipes de Santos, arcar com os custos de tratamento adequado da área", frisam os procuradores. "A postura da Prefeitura contraria os interesses do próprio Município, na medida em que, ao defender a Sabesp e pretender efetuar gastos elevados com o local, faz com que os próprios munícipes tenham de arcar com os custos do tratamento da área, deteriorada por terceiro, no caso, a Sabesp" (leia mais).
Outros projetos para o local foram elaborados. Alguns até com menor impacto ambiental, como o Museu Pelé. Todos foram engavetados.
Os representantes do Ministério Público enfatizam que a praia é bem ambiental, área de uso comum do povo. Acreditam que existe a possibilidade técnica de remover a plataforma e deixar a Praia do José Menino como originalmente era.
No ano de 2006, estudos do Instituto Geológico apontaram para as graves conseqüências às praias da região, decorrentes da omissão da Sabesp em remover o aterro irregular do emissário. O prefeito João Paulo T. Papa, porém, considerou que o novo projeto da Prefeitura – o parque “As Ondas – Santos 21” não impede que, no futuro, o aterro do emissário seja removido.
Imagem: Diário Oficial de Santos
Depois de 30 anos, a área onde está localizado o Emissário será urbanizada
"Quem gosta de Santos tem muito a comemorar com a decisão da Justiça Federal", afirmou o prefeito João Paulo Tavares Papa. "Há 30 anos a cidade aguardava uma solução adequada e definitiva para esta área tão nobre. O parque público, idealizado por um dos maiores arquitetos da atualidade, representa um grande passo na qualificação de Santos como destino turístico" (leia registro completo no site Novo Milênio).
Agora, no calor das comemorações do centenário da imigração japonesa, com o acréscimo de um equipamento especial no “aterro”, ou seja, com a implantação de mais uma obra de arte no parque público (além do portal já projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake), parece que o nó está refeito. Os promotores do Ministério Público Federal consideram que a escultura da artista plástica Tomie Ohtake pode oferecer risco à tubulação do emissário e que o outro monumento (o portal) obstrui a visualização da praia, do mar e da Ilha de Urubuqueçaba.
Você já foi lá para ver se concorda com estas objeções do Ministério Público? Se ainda não, aproveite a oportunidade e diga o que percebeu.