Ainda não se concebiam os luxuosos transatlânticos, mas as valentes caravelas já singravam os oceanos. E, antes disso, as simples e eficientes canoas indígenas, escavadas em tronco de árvore, aportavam nas praias do Brasil pré-cabralino.
Em tempo de reflexões sobre história, memória, homenagens e comemorações aos imigrantes europeus e asiáticos, que chegaram aqui, tornando-se brasileiros, destacamos nesta semana o habitante primitivo desta terra esplêndida: o índio.
Foto: Jornal da Orla
Índios brasileiros em foto de Antônio Vargas
Antes da chegada dos europeus à América, calcula-se que havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número aproximava-se a cinco milhões de nativos. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).
Hoje, praticamente confinados em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo Governo, restaram apenas 750 mil índios, cerca de 200 etnias e 170 línguas. Segundo o historiador, Márcio Meira, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), nos anos 70, quando alguns grupos indígenas foram quase dizimados, no processo de ocupação desenfreada da Amazônia, existiam apenas 250 mil índios no País. Em 2001, o IBGE constatou que eram 750 mil. E provavelmente no próximo censo vamos ter uma população de aproximadamente um milhão.
Meira entende que o crescimento demográfico da população indígena ocorreu porque a sociedade brasileira e o Estado deram condições para a sobrevivência física e cultural dessas populações. Os distritos sanitários, mesmo com todas as suas deficiências, serviram para a vacinação e proteção contra doenças epidêmicas que provocavam alta taxa de mortalidade.
Acredita-se que o primeiro contato entre índios e portugueses, lá em 1500, tenha sido repleto de curiosidade e espanto. As duas culturas tão diferentes, pertencentes a mundos distintos. Um em busca de novos recursos, voltado para a exploração de além-mar. Outro, irmão da terra, respeitador do meio ambiente.
A Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral) e os documentos deixados pelos padres jesuítas registraram diversas características dos habitantes do Brasil. O respeito ao ambiente leva o índio a retirar dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Da madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (ocas). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica transformava-se em potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum, empregado para fazer pinturas no corpo.
Segundo a Funai, durante a realização do I Congresso Indigenista Interamericano no México, em 1940, os representantes de diversos países americanos decidiram convidar os índios, tema central do Congresso, para o evento.
Entretanto, a comissão encarregada de fazer o convite encontrou resistência por parte dos índios que, habituados a perseguições e traições, mantinham-se afastados das reuniões, de nada valendo os esclarecimentos e tentativas dos congressistas. Dias depois, convencidos da importância do Congresso na luta pela garantia de seus direitos, os índios resolveram comparecer. Essa data, por sua importância na história do indigenismo das Américas, foi dedicada à comemoração do Dia do Índio. A partir de então, o dia 19 de abril passou a ser consagrado ao Índio, em todo o continente americano.