Num belo domingo, no Largo da Coroação, também chamado de Largo do Chafariz (hoje Praça Visconde de Mauá), ao som de bandas e ocupado por cavaleiros mascarados, garbosos cavalos e carruagens decoradas, dia 14 de fevereiro de 1858, ocorria o primeiro carnaval de rua santista. Não havia desfiles de escolas de samba. Aliás, nem se cantava o samba, gênero musical do século XX. Como o tempo aqui nesta semana volta 150 anos, ainda estamos no século XIX.
O requinte não alcançava o mesmo grau que o dos bailes de máscaras do Teatro São José da então capital Rio de Janeiro. Havia, porém, aquele clima do continente europeu. Na temperatura obviamente não, porque abaixo da linha do Equador o sol sempre foi muito mais presente. Entretanto, as máscaras e a polca como fundo musical estabeleciam as semelhanças trazidas principalmente pelos imigrantes italianos.
Os portugueses, um pouco menos requintados, gostavam de brincar o carnaval com os controversos entrudos – diversão de uns, inconveniência de outros. Apesar de proibidos pelo Código de Posturas, permaneceram ao longo de gerações em todas as camadas sociais.
Meu avô contava que era comum o sujeito estar passeando calmamente à época do carnaval e levar um caldo de urina. As batalhas de confete, serpentina, lança-perfume, água, ovo, farinha e outras coisas mais caracterizavam as confusões das “brincadeiras” carnavalescas.
Na cidade de Santos, a emergente burguesia adotava o carnaval de salão pela primeira vez, em 1851, no Teatro do Largo da Coroação. Edifício acanhado, térreo, com aspecto de armazém, não proporcionava o conforto que a sociedade santista poderia almejar.
Seis anos depois, em dezembro de 1857, a Sociedade Carnavalesca Santista inicia os preparativos para o carnaval. Na coordenação estava o presidente da Câmara, que também administrava a Cidade, o Sr. Antônio Marques Saes.
O jornal O Comércio publica o programa dos dois congressos carnavalescos, designação dos desfiles de máscaras, nas tardes de domingo e de terça-feira, além de um baile exclusivo para sócios da Sociedade Carnavalesca a ser promovido na noite de segunda-feira.
O baile realizou-se no Teatro do Largo da Coroação (na esquina com a atual Rua Riachuelo). Militão de Azevedo, durante sua passagem por Santos, no ano de 1865, registrou a imagem do Campo da Misericórdia, Chafariz da Coroação e Teatro de Santos.
Imagem: www.novomilenio.inf.br
Campo da Misericórdia e Chafariz da Coroação, em foto
de Militão Augusto de Azevedo (albúmen com
10,6 x 16,9 cm no acervo do Museu Paulista)
Criaram-se outras sociedades carnavalescas e no transcorrer do século XX surgiram os blocos, os cordões, os grupos de choro e as escolas de samba. Alguns clubes ganharam tradição carnavalesca, juntamente com as atividades desportivas. Em 1956, já oficializado pelo poder executivo, o carnaval santista seria considerado um dos melhores do país.
No final do século XX, os grandes desfiles de rua e os bailes dos clubes perdem o seu vigor. No início dos anos 2000, a folia já estava quase apagada, mas recentemente a administração municipal tem incentivado novamente as manifestações carnavalescas.
Finalmente esperamos que, entre projetos e atitudes, a festa popular auxilie a engrandecer o nome de Santos no cenário do Brasil.