Na sucessão de culturas, a que vem antes influi na produtividade da que vem depois. As experiências agronômicas demonstraram que há culturas que beneficiam aquela que vem em seguida e outras que a prejudicam. Por exemplo, a sucessão milho-algodão não é benéfica, pois o milho consome muito potássio e prejudica o algodão, que necessita também de grandes quantidades desse nutriente para se desenvolver. Ao contrário, quando se introduz uma leguminosa no rodízio de culturas (como a mucuna-preta) o resultado é um aumento de produção do algodão.
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A rotação milho-soja é sucesso garantido, porque essas duas culturas apresentam exigências nutricionais diferentes. O milho requer alta dose de nitrogênio, que lhe é fornecido em grande parte pela soja, uma leguminosa capaz de fixar nitrogênio em suas raízes até 396 kg/ha/ano, quantidade mais do que suficiente para atender as exigências do milho.
Na elaboração de um plano de rotação é importante também considerar diversos outros fatores como o pH (acidez) do solo, o clima, as fases da lua, as estações do ano e os efeitos residuais por diversos anos. O agricultor consciente sabe que, numa rotação indiscriminada, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.
A mucuna-preta (Stizolobium aterrinum) é uma leguminosa agressiva e grande fornecedora de massa verde, originária do sudeste da Ásia. Foi a salvação do agricultor Hirofumi (Carlos) Kage em meados dos anos 60. Entretanto, décadas antes, quando a família Kage desembarcou em Santos, em 1937, vinda do Japão, o pequeno Hirofumi tinha apenas 6 anos.
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Eles eram agricultores pobres e tiveram duas profundas impressões da nova pátria: a primeira de deslumbramento, com tanta terra barata e fértil; a segunda de medo – não entendiam os brasileiros e temiam suas reações aparentemente atreladas à pura emoção. Tanto que no início dos anos 40, quando o Japão entrou na 2ª Guerra Mundial, o pai tirou Hirofumi da escola por temer o comportamento de seus colegas brasileiros, claramente engajados no lado norte-americano.
O fato de ter interrompido os estudos regulares não impediu a realização do menino de olhinhos puxados. Hirofumi dedicou-se ao estudo de técnicas de adubação verde, tornando-se pioneiro nacional da forma econômica e ecológica de manter a fertilidade do solo. Na década de 80, já ensinava diferentes audiências, desde escolares a agrônomos nos congressos técnicos sobre a agricultura mais saudável.
Estabeleceu-se na pequena Guaíra paulista (perto de Barretos), cidade homônima da portuária Guaíra (porto fluvial do Paraná), bem longe do mar, no meio do continente. Mas, lembrando do porto fluvial, você teve o privilégio de conhecer o maravilhoso patrimônio natural do Salto de Sete Quedas antes da inundação que destruiu toda aquela obra de arte? Situava-se na fronteira dos estados de Mato Grosso e Paraná com o Paraguai. Também era conhecido como Salto de Guaíra. Lamento que seu potencial energético tenha suplantado as qualidades paisagísticas e ecológicas em nome do progresso e do crescimento econômico nacional.
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A história da humanidade mostra que, em termos de maravilhas, não somos bons mordomos. Das sete maravilhas do mundo, as sete maiores obras edificadas do mundo antigo, relacionadas pelos sábios gregos, resta uma (parcialmente e até quando?). São as Pirâmides do Egito. As outras eram os Jardins suspensos da Babilônia, a estátua de Zeus em Olímpia, o grande Templo de Ártemis em Éfeso, o Mausoléu em Halicarnasso, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria.
Os jardins plantados em terraços, segundo a tradição, teriam sido mandados construir por Nabucodonosor II (Babilônia) para sua rainha, no século VI a.C.. Nenhum vestígio concreto deles foi ainda encontrado, mas ficou o exemplo de obra de arte plantada na memória para a eternidade.
A sucessão ecológica de culturas de Hirofumi na agricultura brasileira é obra de arte real, que depositou sementes para o futuro. Neste início de comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, nossa homenagem ao homem que curou a terra com trabalho e respeito à natureza.