Opinião | Paulo Schiff
Engenheiro civil e jornalista. Apresentador do Jornal da Manhã Litoral Paulista e do Opinião 2.0 na TV Cultura Litoral
Em 1947, quando o então governador de São Paulo Adhemar de Barros inaugurou a pista Norte, de subida, da Via Anchieta, a movimentação de cargas no Porto de Santos era de 8 milhões de toneladas por ano. Uma parte significativa era de importações de máquinas e equipamentos para a instalação das indústrias automobilísticas na região do ABC. Em 1953 foi inaugurada a pista Sul, de descida, obra-prima da engenharia brasileira daquela década. A maior parte das cargas nessa nova pista era de café.
78 anos depois, neste 2025, a movimentação de cargas em Santos deve fechar o ano com mais de 180 milhões de toneladas. Quase 23 vezes maior do que em 1947.
70% dessas cargas chegam e saem do porto por rodovia: sistema Anchieta – Imigrantes.
Em 47, os caminhões mais frequentes na Anchieta eram os modelos Chevrolet Advance, com capacidade de até 1 tonelada de carga. Os mais pesados, da Dodge, que transportavam até 3 toneladas eram mais raros e até assustavam os motociclistas e os motoristas e passageiros de automóveis.
Neste dezembro de 2025, ninguém se assusta mais com uma carreta de 5 eixos carregada com 45 toneladas, nem com um bitrem de 7 eixos com 57 ou um rodotrem Facchini ou Librelato de 9 eixos com 74 toneladas.
O cenário dos caminhões é completamente outro. Mas a Via Anchieta por onde eles trafegam com essas cargas em direção ao Porto de Santos é exatamente a mesma.
Como assim? Uma estrada projetada numa época em que os veículos transportavam até 3 toneladas agora é utilizada por veículos que transportam cargas 24, 25 vezes maiores?
Sim. Exatamente.
A movimentação portuária é 23 vezes maior, a capacidade dos caminhões 24 ou 25 vezes maior, e a estrada é exatamente a mesma.
Dois erros de planejamento explicam essa aberração. Um está na falta de investimentos no modal ferroviário, que responde por apenas 30% dessas cargas. Outro, este crasso, a construção da pista de descida da Imigrantes que por características técnicas não pode ser utilizada por ônibus e caminhhões. Parece piada mas é verdade. Uma estrada que liga os maiores polos exportadores do país ao maior porto da América Latina rejeita os caminhões.
Recentemente a Baixada Santista começou a destravar novelas que se arrastavam há muitas décadas: a reurbanização dos armazéns arruinados do Valongo, em Santos; o aeroporto de Guarujá; o túnel entre as duas cidades.
Há urgência de se incluir nessa lista o conserto dessa lambança logística e ligar por uma pista com geometria atualizada os polos produtores e os terminais portuários. O governo Tarcísio de Freitas estuda a questão. Mas, se demorar, corre o risco de legar ao próximo governador, lá pra 2030 ou 31, a inauguração de uma estrada já saturada.
Paulo Schiff
Engenheiro civil e jornalista. Apresentador do Jornal da Manhã Litoral Paulista e do Opinião 2.0 na TV Cultura Litoral








