Sexta, 22 Novembro 2024

Bom o bastante é bom o bastante para mim. Pode não ser bom para você, pode não ser como a maioria acha que deveria ser, mas se a questão é sobre paixão...

 

“Good enough is good enough” é uma das baladas da banda finlandesa Sonata Arctica, composição de Tony Kakko.

 

A sensatez não costuma ser uma característica dos apaixonados. Impetuosos, por vezes, na loucura da paixão, prejudicam o ser amado e a si mesmos. Alguns privilegiados, porém, conseguem fazer com que tudo seja belo e, neste caso...

 

“Não há meio-termo possível. É preciso que tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.   É preciso que tudo isso seja sem ser, mas se reflita e desabroche no olhar dos homens.”  (Trecho de “Receita de Mulher”, Vinícius de Moraes)

 

A Terra anseia por este olhar apaixonado do homem, com olhos marejados pela ética geracional. Este é o termo que o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, usou para explicar que se a atitude de hoje vai ser prejudicial ao meu bisneto, então sou responsável por isso e devo buscar uma alternativa não prejudicial às próximas gerações. Maia integrou o grupo C40 - representantes das grandes cidades do mundo que se reuniram no último mês, na cidade de Nova York com o objetivo de combater o aquecimento global.

 

Ainda sem a tônica do desenvolvimento sustentável, mas sob a ótica do planejamento regional, outro Maia, há sessenta anos, debruçou-se sobre o tema porto-cidade. O engenheiro Prestes Maia tomou como base o relatório do também engenheiro Hildebrando Góis, publicado em 1925. Naquele primeiro trabalho, a crise portuária era considerada decorrente da insuficiência do sistema ferroviário e não das instalações portuárias.

 

O Plano Regional de Santos, elaborado por Prestes Maia nos anos de 1947 e 1948 e publicado em 1950, já destacava a posição central da Baixada Santista no litoral do Estado de São Paulo e defendia a consolidação e a expansão de Santos como porto. 

 

"Encaramos Santos sob o ponto de vista histórico e geográfico, e mostramos como o seu desenvolvimento decorre dum determinismo geográfico que é mister sopesar em qualquer plano referente ao litoral, neste momento, quando projetos prematuros e dispersivos tentam desviar a atenção para outros pontos. Santos é e será ainda por longo tempo o centro do comércio exterior do Estado e de vasta zona sul-americana e sobre ele devem convergir os projetos portuários e urbanísticos de vulto, sem prejuízo, para os outros portos paulistas, de planos proporcionados aos seus interesses e papéis puramente locais". (Plano Regional de Santos, 1950 – p.39)

 

Para Maia, a ampliação do Porto de Santos, que estava defendendo em 1947, poderia ser feita nos termos do projeto da Docas de 1926, que surgira em conseqüência da crise de 1925, com algumas alterações por ele propostas ou com as que a própria Docas estabelecera recentemente. Para Prestes Maia (1950, p. 84), o projeto da Docas de 1926 "surgiu como conseqüência da crise de 1925, como o contrato da Light em 1909 surgira com as ameaças das Docas, como a proposta da mesma Light em 1925 resultara da aparição dos ônibus, como o estudo da São Paulo Railway de 1895 (linha por aderência em Cubatão) seguiu-se ao congestionamento de 92, como o projeto da mesma em 1927 (linha por aderência no Quilombo) sucedeu aos congestionamentos de 1921 e 1925, como esta última crise também impeliu a Sorocabana à linha de Mairinque, e como o congestionamento de 1947 talvez conduza à ampliação do Porto de Santos."

 

A crise portuária de 1925 foi superada e posteriormente foram feitos investimentos ferroviários como a linha da Sorocabana (fins da década de 20 e início da de 30) e melhoramentos portuários. Mas a história é longa e os apaixonados não conseguem se libertar das crises. Semana que vem continuamos. Um brinde aos apaixonados!

 

“Os olhos, que sejam de preferência grandes e de rotação pelo menos tão lenta quanto a Terra; e que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão que é preciso ultrapassar”. (Trecho de “Receita de Mulher”, Vinícius de Moraes)

 

 Foto: http://www.flickr.com/photos/sansartore/

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