Ilustração: Maria Picasso
O grupo de rock, formado na década de 80, na cidade de Krefeld, na Alemanha é definido como uma banda de “heavy metal” e “power metal”: Blind Guardian. Você já ouviu falar deles? Talvez não, mas deve ter assistido a um ou mais filmes da trilogia “O Senhor dos Anéis” (roteiro baseado na obra literária homônima de J.R.R. Tolkien).
As composições da banda (letras no idioma inglês apesar da origem germânica) costumam ser inspiradas na cultura medieval, nas mitologias nórdica e grega e nas obras de Tolkien. Conflitos contemporâneos como a Guerra no Oriente Médio também são fonte de inspiração. Os rapazes apresentam-se esta semana pela terceira vez no Brasil, movimentando milhares de fãs para assistir aos “shows”.
A atmosfera onírica e por vezes sombria do Blind Guardian levou-me a um laboratório: sons, música, ruídos e emissões gasosas...emissões veiculares.
Na virada dos séculos, no ano de 2000, o Banco Mundial liberou ao governo do Estado de São Paulo, um financiamento de US$ 45 milhões, destinado ao Programa Integrado de Transportes Urbanos (Pitu), especialmente às obras de interligação das linhas B-C-E-F (Região da Grande São Paulo) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Em contrapartida, deveria ser instalado, no período de 2002 a 2004, o Laboratório de Análise de Ruídos e Emissões Veiculares sob a responsabilidade de operação da Cetesb.
O Laboratório foi orçado em US$ 8,5 milhões e, no final de 2003, o então governador Geraldo Alckmin anunciou sua construção. Mesmo sem o efetivo início das obras, em 2005, o Banco Mundial classificou como “razoavelmente satisfatório” o andamento da contrapartida, reconhecendo “lamentáveis atrasos”.
Recentemente, o gerente de projetos de transportes do Banco, Jorge Rebelo, declarou que “os atrasos verificados devem-se a questões de orçamento e a entraves jurídicos ligados à importação do equipamento”, mas que acredita que “as obras serão concluídas”.
A CPTM, responsável pela coordenação do projeto, esclareceu que antes dos entraves de importação, ocorreu a mudança de local da obra. O laboratório programado para a Zona Oeste de São Paulo (Piqueri) foi transferido para o município de Praia Grande (Baixada Santista) no fim de 2004 por problemas logísticos de acesso.
O segundo contratempo passou a ser a importação dos equipamentos. A licitação internacional foi ganha pela empresa austríaca AVL List, mas uma empresa nacional alegou que fabricava produtos similares ao da concorrente austríaca. Desta forma, seria necessário o recolhimento de impostos adicionais para emissão da licença de importação dos equipamentos. Em seguida, a Receita Federal exigiu a vistoria das máquinas e instrumentos no Porto de Santos. É isso aí, você já está percebendo que o tempo, quase que de forma invisível, está correndo há anos.
A CPTM informa que os projetos executivos de engenharia para o Laboratório encontram-se em fase final. A Cetesb, por sua vez, diz que a liberação aduaneira dos equipamentos deve sair logo, já que a vistoria foi realizada no último dia sete de março. A Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Praia Grande também se manifesta, esclarecendo que a cessão do terreno foi prorrogada até fevereiro de 2008.
Enquanto isso, fechando os olhos e os ouvidos e tapando o nariz para as diversas fontes de ruídos e emissões veiculares, a Cetesb se limita a certificar níveis de emissão de gases de automóveis no antigo laboratório da capital paulista.
“E então houve silêncio
Vire sua cabeça e veja os campos em chamas
...
Ele segue adiante
De um lugar distante
Ele está em seu caminho
Ele trará decadência
...
Está perdendo o controle
A cortina final irá cair
Ouça minha voz”
(Trecho de “And Then There Was Silence” - E então houve silêncio-, Blind Guardian/2001).