Sábado, 11 Mai 2024

Aproveitando o clima da “Lua de Terra” do eclipse lunar da semana passada, entramos esta nova semana, homenageando o poeta, contista, romancista, jornalista, magistrado e diplomata que dizia preferir as tardes de garoa às manhãs de sol. Ruy Ribeiro Couto, foi considerado o poeta da chuva, da neblina, dos meios tons, característica que justificou seu apelido de “penumbrista”.

Ruy Ribeiro Couto nasceu em Santos, em 12 de março de 1898 e em 1915 mudou-se para São Paulo, onde começou a cursar a Faculdade de Direito. Formou-se bacharel em Direito em 1919, no Rio de Janeiro. Antes disso, aos 14 anos de idade, já estreava na imprensa santista, publicando artigos no jornal “Cidade de Santos” e na revista “A Fita”. Com 20 anos (em 1918), obteve o 1º lugar em concurso literário promovido pela revista “A Cigarra”. 

Santos é a terra natal do “penumbrista”, aquela cidade gravada na alma do poeta, a cidade que não é grande nem pequena, onde experiências marcantes foram vividas, onde, por exemplo, na Praia do Gonzaga, o coração do jovem Ruy batia entre as pontas do dilema: Carolina ou Bilu?

"Ribeiro Couto contribuiu, com sua obra em verso e em prosa, para incorporar à nossa literatura motivos da vida simples, da vida de todos os dias, da vida vivida na rua, nos quintais, no quarto do estudante Batista, na contemplação dos pombos, voando assustados com o passar do trem do subúrbio. E mais: o pudor das aspirações obscuras, a mãe fatigada que espera, até altas horas, o filho boêmio; o rumor cadenciado e surdo de passos na rua deserta, enfim a vida de toda gente, gente grande, gente pequena, alta, baixa, gorda, magra, boa ou má, inteligente ou medíocre, dentro da dignidade do cotidiano autêntico, natural, humano, sem nenhuma ênfase e nenhuma oratória”.

Octavio Filho, Rodrigo [1968]. Ribeiro Couto.
In: A literatura no Brasil. 2.ed. v.4, p.259.

Em 22 de março de 1998, Narciso de Andrade escreveu uma matéria especial no Jornal A Tribuna, recordando com melancolia o centenário do nascimento de Ribeiro Couto. Dizia o poeta e escritor Narciso que: “A Santos que o poeta viveu não existe mais. Não se sente hoje aquela vibração constante das ruas do centro. Mudou a paisagem urbana e, mais ainda, a paisagem humana. Existirá ainda aquela cavalheiresca tradição dos negócios cafeeiros, quando altas importâncias eram garantidas apenas pela palavra empenhada? Mudou esta nossa querida e desfigurada cidade”.

A região do Centro já não possui toda aquela vitalidade que a caracterizava como “a cidade”. A evolução urbana ampliou a cidade e transferiu as famílias mais abastadas do Centro para áreas mais próximas da praia, deslocando também várias atividades comerciais para outros bairros. A região central enfraqueceu e empobreceu-se e passou a ser conhecida como o “Centro Velho”.

Entretanto, ainda nas duas últimas décadas do século XX, as administrações municipais projetaram iniciativas para tentar reverter o quadro de deteriorização da região central do município de Santos. Mais recentemente, no ano de 2003, foi criado o Projeto Alegra Centro com o objetivo de retomar o desenvolvimento socioeconômico do Centro e, por conseqüência de toda a Cidade.

A 6ª Semana Ribeiro Couto começou nesta segunda-feira, na Praça Mauá (Centro) com atrações literárias e exposições, além do passeio histórico “Rui Ribeiro Couto, A Cidade da Minha Infância” e lançamento do concurso de poesia com o tema “Os Cem Anos dos Canais de Santos” (para alunos do 6º ao 9º ano das escolas públicas e particulares).

Sou bem teu filho, ó, cidade marítima,
Tenho no sangue o instinto da partida,
O amor dos estrangeiros e das nações,

Oh, não me esqueças nunca, ó, cidade marítima,
Que eu te trago comigo por todos os climas
E o cheiro do café me dá tua presença.

Trecho do poema “Santos” de Ribeiro Couto (poema cíclico em dez estrofes do livro Noroeste e Outros Poemas do Brasil, publicado pela Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1933).

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