Num momento em que todos renovam esperanças em um mundo melhor - de forma quase irracional, como se uma nova data no calendário fizesse diferença significativa na forma de agir das pessoas -, num 2012 em que o Brasil precisa se acautelar contra novas "marolinhas", vindas talvez de uma Europa em profunda crise (econômica, cultural e até de identidade), vale acrescentar às esperanças nacionais o desejo que se olhe mais atentamente para o transporte marítimo, principalmente o que é (ou não é) feito em nosso litoral - a chamada cabotagem ou navegação costeira.
Cada um de nós - pessoas físicas, empresas, entidades governamentais - arca duplamente com o custo de não termos uma navegação própria, especialmente de cabotagem.
Primeiro, porque todos pagamos o aluguel de navios, embutido nos preços dos produtos importados e nos custos globais de nossas exportações. São postos de trabalho que faltam no país, por serem presenteados a estrangeiros. São as divisas que saem para pagar os afretamentos. São as navipeças que deixam de ser fabricadas para equipar navios nacionais, e com elas os empregos que deixam de existir ao longo de toda a nossa cadeia produtiva ligada à construção e ao reparo naval (talvez pareçam poucos à primeira vista, mas um olhar atento revelará inúmeros outros trabalhadores empregados de forma indireta, e mostrará como os ganhos de toda essa gente impactam beneficamente em suas comunidades etc. etc.)
E segundo, porque, no caso da cabotagem, pagamos todos os inúmeros custos associados ao transporte rodoviário de cargas em longas distâncias, que poderiam ser vantajosamente cobertos pelo transporte marítimo. Combustível, manutenção de estradas, danos às mercadorias causados por acidentes, roubos/furtos de cargas, perdas por manipulação inapropriada e muito mais.
É fácil provar a viabilidade econômica e estratégica de uma navegação forte de cabotagem. Difícil é se contrapor ao lobby rodoviarista, que tomou conta do País nos últimos 50 anos, e que se alimenta de suas próprias mazelas para impor ao Brasil um modelo anti-econômico e abolido em quase todo o mundo.
Mas, como um novo ano está começando, ainda vazio de realizações e pleno de expectativas, não custa sonhar...