O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou o Comunicado 149 - Trabalho para o mercado e trabalho para casa: persistentes desigualdades de gênero, onde, baseado em dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD-IBGE), reafirma que as mulheres, mesmo assumindo jornadas de trabalho mais extensas, continuam arcando com a mesma responsabilidade de outrora nos afazeres domésticos.
Muitos se perguntam, quais os motivos da persistência deste dado? É possível continuar baseando-se na história, onde o contraponto casa e rua, onde a casa é o lugar da mulher e a rua o lugar do homem e com estes lugares, todas as funções inerentes a ela, mantém-se.
Contudo, outra questão, talvez mais importante, surge: quando e como poderemos mudar esse quadro? É visto que apenas a entrada e expansão da presença da mulher no mercado de trabalho não impediram que ela continuasse assumindo a mesma jornada de trabalho doméstico. Culturalmente, ainda estamos na dicotomia casa e rua e a mulher, mesmo ocupando cada vez mais os espaços da rua, ainda é a “dona da casa”.
Acredito que este quadro se reverterá em médio prazo e não será pela conquista dos espaços da rua pela mulher. Conjecturo que as novas formas que a família vem assumindo na contemporaneidade é que serão responsáveis pela mudança cultural em torno da posição da mulher, como as famílias monoparentais (tanto com mulheres como homens) e o aumento dos divórcios e guardas compartilhadas. Estas experiências exigirão mais a presença do homem nas decisões familiares e no cuidado com os filhos e a casa. Quem sabe, então, daqui 20 anos, a PNAD possa nos mostrar uma outra realidade.