Semana passada, fomos surpreendidos com a recomendação do Ministério da Educação para que o livro As Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, não fosse distribuído pelo governo nas escolas públicas. Alega o MEC que o livro possui passagens que evidenciam o preconceito racial. Nesta mesma semana iniciei a leitura e revisão de um trabalho de conclusão de alunos do curso de Biblioteconomia que tem por tema a censura e destruição de livros em períodos ditatoriais. Impossível não fazer uma conexão.
Nos períodos ditatoriais, os livros eram censurados ou destruídos por terem conteúdo considerado subversivo ou contra as ideias professadas pelo governo vigente. Hoje, os livros são censurados ou indicados para não serem lidos por terem conteúdos fora do que é considerado politicamente correto. Mas, como podemos dizer o que é correto se não temos a noção do que não é? Como eu construo o olhar crítico e reflexivo em uma criança a afastando de tudo aquilo que pode promover a crítica?
No caso do livro não recomendado pelo MEC, dizem que o problema é que há estereótipos raciais. Se há, por que os professores não podem utilizar esta obra para realizar discussões sobre o que é raça, se existem raças, como se gera o preconceito e a discriminação e quais os caminhos para a igualdade de raça, por exemplo? Ou seja, ao invés de proibir ou censurar, por que não lermos e debatermos?
Afinal, devemos lembrar que a melhor maneira de produzirmos a noção de certo e errado é com liberdade de pensamento e expressão, as únicas capazes de gerarem a reflexão e a crítica, necessárias para a construção de valores sociais e políticos condizentes com um país democrático.