Em um texto sobre propagandas de banco, terminei a última coluna defendendo o acento diferencial em “pára” (que o editor de texto adaptado à reforma ortográfica sublinha com uma linha ondulada vermelha). O poeta Ademir Demarchi usa a palavra no poema “Alguém morre para”:
os semáforos se fecham
para
o trânsito
circular
e se misturar
em outras direções
alguém morre pára
alguém morre para:
E assim, evitando o lugar-comum, Demarchi percorre grandes temas da poesia como a morte, a metafísica (ainda que pela sua impossibilidade) e o próprio fazer poético, como nestes versos de “Pensar / Doer”, de “Considerações a respeito”, outro dos livros:
eis esculpido o poema
como estátua de mármore
enfim pleno de viço e graça
a sugar-te os seios
a secar-te as taças
Em outro poema de “Abismo”, há um verso de Ademir Demarchi que vale bem por uma máxima de seu trabalho.
... um desempenho entre cru e encantatório...
Ainda vou meter bastante colher nesse pirão.
Referência
Ademir Demarchi. Pirão de Sereia. Santos: Realejo Livros, 2012.