Foto: navio Log In RioNão basta dotar os portos de infraestrutura e semear boa vontade Brasil afora para desenvolver de forma sustentável o transporte via cabotagem no País. Conforme destaca o colunista do PortoGente, Silvio dos Santos, o desequilíbrio do fluxo de carga entre as regiões Sul-Sudeste e Norte-Nordeste aumenta os custos das operações. Prova disso é o balanço divulgado pela Log-In nesta semana. No segundo trimestre deste ano, a maior parte do volume de cargas operado pela empresa foi movimentada no sentido Norte, com cargas originadas nas regiões Sul e Sudeste. Não há, contudo, produção suficiente que possibilite a lotação dos navios para o percurso de volta. Esta questão exige das empresas que realizam o transporte aquaviário um planejamento muito mais complexo do que a simples coleta, movimentação e entrega das mercadorias. Toda a cadeia logística deve ser minuciosamente analisada para garantir soluções inovadoras e eficácia à cabotagem. Caso isso não seja feito, prevalece o pensamento exposto pelo presidente da Câmara Interamericana de Associações Nacionais de Agentes Marítimos (Cianam), Waldemar Rocha Junior, ao PortoGente nesta semana: “Botar a carga em um caminhão é muito mais rápido e mais fácil”. Um nicho promissor de oportunidades para a cabotagem é a atividade offshore. Nessa operação, a distância dos deslocamentos é bem menor, executando apoio às plataformas de exploração de petróleo e gás natural. Grandes empresas estão buscando profissionais qualificados, como mestres de cabotagem, no mercado, diante da expansão do segmento. Em menor escala, há o crescimento da navegação de apoio portuário no Brasil, pois é muito mais econômico utilizar embarcações de cabotagem do que as de longo curso para essa finalidade. Uma política nacional que englobe todas essas questões depende da elaboração competente do Projeto de Incentivo à Cabotagem (PIC), por meio do experiente corpo técnico da Secretaria de Portos (SEP). A demanda está em crescimento, como mostra o já citado comunicado da Log-In, que aponta crescimento de 18,6% nos contêineres movimentados em abril, maio e junho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2009.
“Botar a carga em um caminhão é muito mais rápido e mais fácil do que realizar o transporte via cabotagem”. A declaração de Waldemar Rocha Junior, presidente da Câmara Interamericana de Associações Nacionais de Agentes Marítimos (Cianam), evidencia a burocracia que atrapalha o desenvolvimento da cabotagem no Brasil. Ele destaca, entretanto, que não há somente um único problema que, caso resolvido, minimizará as dificuldades de realizar o transporte aquaviário interno no País. “Não há um só fator, são fatores combinados”.
Foto: http://thestar.com.myO estudo "Perspectivas do Crescimento de Transporte por Cabotagem no Brasil", feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) em 2005, mostrou que o transporte por cabotagem tinha, na época, condições de aumentar a movimentação em dez vezes no País. A análise também mostra que, em 2004, apenas 10% da carga que poderia ser transportada por cabotagem de fato utilizou esse modal. Atualmente, o modal aquaviário corresponde a 17% da movimentação de cargas no Brasil.
O Projeto de Incentivo à Cabotagem (PIC), apresentado em janeiro último pela Secretaria de Portos (SEP), traz avanços significativos para o setor, mas também precisa encontrar soluções para antigos problemas enfrentados pelas empresas privadas que já fazem esse tipo de transporte. Um grupo de trabalho foi criado dentro da Casa Civil para tentar resolver essas questões.
As polêmicas envolvendo a instalação do estaleiro da OSX em Santa Catarina e da Promar Ceará no Nordeste do Brasil mostram, sobretudo, que a indústria naval tupiniquim está definitivamente reativada. Depois de décadas de amargura e de esquecimento, o dinheiro volta a jorrar no setor e os projetos acumulam-se sobre as mesas das autoridades. Por isso mesmo, o cuidado deve ser redobrado neste momento.