A JBS Finance II Ltd., subsidiária da JBS S.A., anunciou hoje a precificação da sua oferta de Títulos de Dívida, com a conclusão agendada para quinta-feira, 29 de julho de 2010. O montante principal é de US$ 700 milhões, com um cupom de 8,25% e vencimento em 2018. A Companhia pretende usar estes recursos para melhorar o perfil do endividamento através do refinanciamento da dívida de curto prazo e melhorar sua liquidez, bem como reforçar a sua posição de caixa.
SÃO PAULO - As importações de aço no Brasil continuam sua escalada. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, até junho as importações do produto já somaram US$ 2,2 bilhões, o que representa 86% do total importado em todo o ano de 2009.Expostas ao insumo internacional, que segura os preços no mercado interno, a saída das siderúrgicas é apostar na fidelidade de seus distribuidores.Na última semana, a Usiminas comunicou ao mercado que fechou contratos com distribuidores, transformadores e centros de serviços com o objetivo de criar a Rede Usiminas. O objetivo da rede é distribuir produtos em 15 estados do País.A iniciativa da empresa é uma estratégia para manter a sua posição diante do volume crescente de importações de aço no Brasil.Segundo a Usiminas, a rede garante a competitividade da empresa e oferece ao cliente final o melhor valor na concorrência com o aço importado.Segundo o gerente nacional de vendas da Açotubo, uma das maiores distribuidoras de tubos e aços do mercado, Antônio Luiz Abbud, as alianças com fornecedores locais de aço são necessárias em uma época em que é farta a entrada de aço importado. "O mercado nacional está recebendo muito aço chinês, italiano e russo", diz Abbud. Segundo ele, está importação está regulando o preço e exigindo um novo posicionamento das siderúrgicas brasileiras.A formação de redes de distribuição ou os contratos de exclusividade, como acontece com a Açotubo, que só trabalha com a Gerdau e com a Mannesmann Valorec (V&M), dificulta a expansão dos aços importados em território brasileiro. "É claro que um contrato de exclusividade exige uma contrapartida da siderúrgica, que nos dá um preço melhor do que o praticado livremente no mercado", diz o gerente.VulnerávelO crescimento da vulnerabilidade das usinas siderúrgicas nacionais vem exigindo que elas se aproximem cada vez mais dos distribuidores. "A tendência é de que haja uma equiparação do mercado nacional com o preço dos importados", avalia o gerente da Açotubo, para quem as usinas devem buscar cada vez mais qualidade e competitividade internacional. "O Brasil tem trabalhado há décadas com barreiras e taxas de importação, mas essas práticas estão acabando", afirma ele.Para Abbud, o Brasil tem capacidade de fabricar o melhor aço do mundo porque tem matéria-prima em abundância.A Açotubo reconhece que muitos setores da economia nacional vêm sofrendo com as importações. "Mas, por outro lado, vemos que há expansão nos setores de petróleo e açúcar e álcool", diz o gerente da empresa. Segundo ele, o pré-sal, por exemplo, está aquecendo os negócios do mercado petrolífero.Infelizmente, as importações estão afetando os setores de máquinas e equipamentos. "Muitas empresas estão achando mais compensador importar as máquinas prontas e apenas colocar a etiqueta com o nome da empresa", afirma Abbud.A Açotubo prevê ampliação de 30% na comercialização de sua linha de aços para este ano. Este foco de atuação corresponde a 40% dos negócios da companhia.O gerente nacional de Vendas explica que a empresa está otimista, pois vê uma ampliação dos negócios, inclusive com o fornecimento de barras de aço e peças para a Petrobras.Outros aspectos importantes que têm contribuído para o desempenho competitivo da empresa no mercado são a capacitação da equipe comercial e a disponibilidade de fornecer peças prontas, usinadas, isto é, tratadas termicamente e ensaiadas para aplicação final, de acordo com as necessidades dos clientes.A Açotubo fornece para segmentos como o de máquinas e implementos agrícolas, autopeças, indústria naval, sucroalcooleiro, de petróleo, de motores e redutores e fábrica de prensas, entre outros, com o fornecimento de produtos como barras trefiladas, barras laminadas e forjados.Fundada em 1974, a Açotubo prevê concentrar-se em investimentos em qualidade para 2010. A empresa tem projeto de modernização da máquina de corte a plasma, única no Brasil, para produção de cortes complexos de grande precisão.
Os trabalhadores portuários paralisaram o terminal portuário CPVV, localizado em Vila Velha, no Espírito Santo, nesta terça-feira (20). Eles protestam pela não requisição, por meio do Órgão Gestor de Mão de obra (Ogmo), de trabalhadores no sistema.
SÃO PAULO - O crédito consignado para funcionários de empresas privadas começou a crescer em ritmo mais acelerado que as operações para servidores públicos em 2010. De acordo com o Banco Central (BC), no período de 12 meses contabilizados a partir de maio do ano passado o setor privado aumentou a carteira de R$ 12,174 bilhões para R$ 16,882 bilhões.Segundo o BC, no período, o saldo de consignado privado cresceu 13,1%, contra 12% dos servidores públicos. Contudo, em valores, a carteira dos funcionários públicos é quase seis vezes maior, pois alcançou R$ 104,103 bilhões em maio.Na opinião de José Roberto Savoia, coordenador de Projetos da Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade ligada à USP, em até 5 anos os valores de carteiras devem se equiparar.Savoia destaca que levou 5 anos para os bancos estruturarem as bases, os softwares e os convênios para implantar o crédito consignado no setor público. "É muito lógico pensar que a estrutura será levada para o setor privado. Em menos de cinco anos os setores devem se equiparar."O acadêmico ressalta que as taxas de juros podem não ser tão atraentes para o setor privado como são as do público. "Temos de levar em conta que é um funcionário sem estabilidade e por isto os prazos podem ser menores. É preciso dar-se a maturação do mercado e a criação de convênios entre bancos e empresas."Ele destaca que o ritmo de crescimento da carteira de crédito vai depender do quanto os bancos querem se expor a riscos como o de a pessoa ficar desempregada. "A dívida é da pessoa. Se ela trocar de emprego, ela pode ou não vincular a empresa nova."Quanto o fato de a taxa de crescimento do setor público ser mais alta que no privado, Savoia justifica que a base é pequena. "O setor público tem uma base financeira 10 vezes maior. Há espaço para ambas crescerem. A demanda de funcionários públicos e privados é grande e reprimida."Outro professor que acredita no crescimento da carteira de crédito consignada do setor privado é Alcides Leite. O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios disse que os empregos formais podem impulsionar os negócios para os bancos.Para Leite, entre ano passado e este ano houve um período de aquecimento das contratações formais e com carteira assinada. "O mercado só poderia desandar se houvesse uma onda de desemprego, mas ninguém prevê isto."EmpregoNa quinta-feira, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgou que a economia do Brasil teve uma geração histórica de empregos formais no semestre. Ao todo foi criado no período 1, 473 milhão de vagas. Os números superam o recorde registrado em 2008, de 1,361 milhão.Os dados do Ministério do Trabalho revelaram que São Paulo liderou a criação de empregos com a criação de 545 mil novas vagas, seguido por Minas Gerais (232 mil postos), Rio Grande do Sul (104 mil), Paraná (100 mil postos), Rio de Janeiro (88,5 mil), Goiás (70,1 mil ) e Santa Catarina (66,2 mil).Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi até o final do ano serão gerados 2,5 milhões de empregos formais. Se este número for confirmado, o total de empregos criados desde 2003 atingirá 11,14 milhões, resultado que superará a marca de 10 milhões de vagas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu durante a campanha de 2002.Dados do Caged apontam de que o sudeste foi responsável pela criação de 894, 012 mil novos empregos com carteira assinada no primeiro semestre. Em junho, o sudeste abriu 123, 823 mil novas vagas. São Paulo foi responsável pela criação de 70, 265 mil empregos com carteira assinada.O destaque ficou com a geração de empregos nos setores da agropecuária, com 24, 336 mil postos, de serviços, com 18, 941 mil, da indústria de transformação, com 16, 075 mil, e, na lanterna, o comércio, com 10, 356 mil.Em Minas Gerais, a geração de empregos cresceu 6,64%, o que representou o surgimento de 232.572 novas vagas. O estado obteve o segundo melhor desempenho do País: no interior mineiro, foram gerados 172, 376 mil postos de trabalho, e na região metropolitana 60, 196 empregos.No mês de junho, o Estado do Mato Grosso viu a criação de 5, 287 mil empregos registrados, o equivalente a crescimento de 1,03% em relação ao estoque de assalariados com carteira assinada do mês anterior. O setor de agropecuária foi o que mais cresceu - 2.734 postos. A indústria de transformação foi o segundo colocado, com 717 vagas.De acordo com a imprensa local, as cidades de Primavera do Leste e Sinop criaram 439 vagas e 294 vagas de emprego formais, respectivamente. Várzea Grande criou 165 novos empregos.
SÃO PAULO - A matriz brasileira para a geração de energia elétrica tem a predominância nas fontes renováveis. Dessas, a hidroeletricidade é a responsável por quase 80% do total produzido. Porém esse perfil vem mudando desde o início deste século, motivado, principalmente, pela segurança do fornecimento do insumo.Nesse sentido, a energia eólica é a mais nova fonte que luta para conquistar seu espaço no setor elétrico brasileiro. No final do ano passado, o governo realizou o primeiro leilão exclusivo desta fonte. Foi contratado 1,8 mil MW, muito mais do que os 400 MW conseguidos com o Proinfa, programa de incentivo à geração por fontes renováveis.Agora, estamos a cerca de 30 dias da realização do próximo certame, que promete adicionar outro volume importante de energia eólica no País. Com isso, as empresas estão sendo atraídas pelas perspectivas de crescimento, o que traz mais emprego, negócios e escala a esta fonte, que pode alcançar 2,5% do total gerado no País. Porém, os planos da associação que representa o setor são mais ambiciosos e apontam para uma participação dez vezes mais elevada do que esta.Para falar sobre este e outros assuntos, apresentamos o conteúdo do programa "Panorama do Brasil", que realizou uma entrevista com o presidente recém-empossado da Associação Brasileira da Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões. Parceria do DCI com a emissora TVB e com a Rádio Nova Brasil FM, o programa foi apresentado pelo jornalista Roberto Müller e contou com a participação de Milton Paes, da Nova Brasil FM, e de Márcia Raposo, diretora de redação do jornal DCI.Roberto Müller: Quando é tempo de vento os reservatórios estão baixos porque é temporada de seca e quando terminam os ventos é porque temos chuvas. Me parece meio ingrato um País que tem vento e recursos hídricos, uma participação da eólica, não obstante, baixa na matriz energética brasileira. Qual é a saída para o setor?Ricardo Simões: A saída é continuar contratando a energia da mesma forma como foi feita em dezembro do ano passado, por meio de leilões. Essa contrassazonalidade entre a eólica e a hidráulica permite ao Brasil atender a demanda de energia por meio de fontes limpas. Com isso, nossa expectativa é de que a geração de energia eólica em 2012 responda por cerca de 2% a 2,5% da matriz energética brasileira. Agora, temos a oportunidade de, mantendo o ritmo de contratação como o de dezembro ano passado, elevar gradativamente essa participação para patamares de até 20%. Para que isso efetivamente ocorra, estamos realizando alguns estudos para levar ao governo que patamar de contratação é esse e o horizonte no qual esperamos alcançar esses 20% que projetamos.Márcia Raposo: Ricardo, nesse prognóstico que você faz, o Brasil precisaria de mais players ofertando energia eólica no Brasil ou está pensando nos mesmos agentes do setor, mas com um aporte formidável de capital? Como é que vai ser o modelo de crescimento, não só dos ofertantes de energia eólica, e como deverá ser a tecnologia? Qual é o número de empregos criados com um parque eólico?Ricardo Simões: Bem, vamos dividir a resposta em partes. No âmbito de produtor independente de energia, nós tivemos 13 GW inscritos no leilão anterior, o primeiro de eólica. Desses a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) habilitou cerca de 11 GW. Já temos 10 GW cadastrados para o próximo leilão, esse volume mostra que a iniciativa privada quer investir em geração eólica. Agora, sob o ponto de vista do fabricante, nós temos uma mudança considerável no cenário. O Pro-eólica atraiu inicialmente a Wobben-Enercon, cujas fábricas ficam em Sorocaba, São Paulo e Pecém. Já o Proinfa, que trouxe a Impsa, que já está instalada em Suape (PE), e mais, com o advento desse próximo leilão, temos a Alstom, que está se instalando na Bahia e a GE se instalando em São Paulo. Ainda posso citar a Vestas e a Suzlon, cujos processos de finalização de financiamento estão em curso no BNDES. Por isso falamos com muita tranquilidade que a capacidade de produção de equipamentos de geração eólica no Brasil, está saindo de 900 MW para 3 GW em 2012. Isso mostra que o Brasil atraiu investimentos de fabricantes em larga escala. Para cada mil MW, cria-se até 14 mil vagas. Desse modo, tivemos 25 mil com o leilão.Márcia Raposo: Mas para ter 20% da matriz energética no prazo que citou, você avalia que devemos ter mais atração? Vemos que vários produtores chineses estão entrando nessa área de moinhos e há mais gente nova nesse mercado...Ricardo Simões: Além disso, para esse leilão temos informações que os chineses já estão cotando máquinas para os players que pretendem entrar neste certame.Roberto Müller: Qual é o investimento necessário para um parque eólico, é muito alto?Ricardo Simões: Olha, o investimento está na ordem de R$ 4 milhões a R$ 4,2 milhões por MW instalado em um parque eólico no Brasil...Roberto Müller: ... e comparativamente a outras fontes de energia, como é que se situa esse valor?Ricardo Simões: Se formos comparar com um projeto hidrelétrico de grande porte, a geração eólica é mais cara por MW instalado.Roberto Müller: Ricardo, porque é mais alto o investimento em uma usina de geração de energia eólica do que em uma hidrelétrica? Por que essa informação deixa surpreso um leigo como eu?Ricardo Simões: Roberto, isso depende da hidrelétrica. Se falarmos de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte, é claro que a hídrica será mais barata, obviamente, em função da questão escala. Agora, se falarmos de eólica comparadas a uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), o investimento acaba sendo mais barato para o empreendimento de geração de energia dos ventos.Márcia Raposo: Então depende da escala somente?Ricardo Simões: Sim, depende da escala. Esse é mais um motivo para se fazer leilões sucessivos e com volumes significativos de venda de energia. Dessa forma, você dota essa indústria de escala para que ela tenha maior competitividade e essa vantagem chegue ao consumidor com tarifas mais baixas.Milton Paes: Me parece que esses valores, apesar de serem mais altos, recuaram, eram mais elevados. Foi necessária essa queda para atrair investidores visando a entrada na matriz energética...Ricardo Simões: Sem dúvida, esse investimento, no passado, estava na ordem de R$ 5 milhões por MW instalado, mas tem caminhado para patamares de R$ 4 milhões, conforme eu disse. Essa redução foi notada claramente no leilão de eólicas do ano passado.Márcia Raposo: E modelos mais pulverizados para essa oferta de energia, como em fazendas que possam ter moinhos menores e tornem a propriedade independente de energia do poste. Vocês também pensam nessa possibilidade assim como as PCHs estão para grandes industrias eletrointensivas?Ricardo Simões: Sim, sem dúvida. O Brasil já atrai investimentos nesse segmento de microgeração. Já estamos sendo procurados na Abeoólica, a nossa diretoria executiva tem tratado com fabricantes que desejam se instalar no Pais. Agora, para aquele produtor rural que tem um local propício, a atividade no campo é totalmente compatível com a geração de energia eólica de larga escala. Essa geração é absolutamente amigável com atividades agropecuárias. Inclusive, a energia eólica proporciona renda adicional que ajuda a fixar o homem do campo, porque os geradores eólicos pagam um aluguel em relação à receita líquida.Milton Paes: Fala-se muito em sustentabilidade. Imagino que sob o ponto de vista da energia eólica, que é renovável, vocês estão utilizando essa questão para incentivar esses novos players e conscientizar o governo dessa questão para chegar aos 20% citados. Vocês apostam nesses conceitos para o governo comprar a ideia da energia eólica no Brasil?Ricardo Simões: Sem dúvida, Milton, isso está na ordem do dia. Para você ter uma ideia, se ao invés do governo ter contratado os 1,8 mil MW de eólica tivesse sido contratado usinas movidas a óleo combustível, que são as mais caras na hora da geração, e essas usinas tivessem nos próximos vinte anos operado a 10% tempo, teríamos a emissão anual de 1 milhão de toneladas de CO2 adicionais. Então essa questão da sustentabilidade está colocada ao governo que tem consciência disso e, sem dúvida nenhuma, é um dos grandes atrativos para a sociedade brasileira produzir energia eólica.Márcia Raposo: Com essas mudanças climáticas que temos vivido, fenômenos como o El Niño e o La Niña podem fazer com que as correntes de vento possam mudar dessas regiões?Ricardo Simões: Olha, o que os especialistas em mudanças climáticas dizem é que nos próximos 25 anos, com relação à intensidade e velocidade, não haverá mudança significativa nesse panorama no Brasil. Agora, existem alguns estados que estão fazendo esforços adicionais para receber investimentos. Recentemente, o Estado de Minas Gerais lançou seu mapa eólico, e isso traz uma boa noção para o investidor passar a olhar para aquele estado como uma oportunidade de investimentos. Mas hoje, claramente, os estados da Bahia, do Rio Grande do Sul, Ceará e Rio Grande do Norte são os maiores potenciais que temos.Roberto Müller: Em quais regiões o potencial de energia eólica é maior no Brasil?Ricardo Simões: Hoje, a Região Nordeste lidera. Dos 71 empreendimentos vencedores do último leilão, 67 estão espalhados por aquela região. O restante está no Rio Grande do Sul. Essas são as áreas que lideram a geração eólica.Roberto Müller: Apesar dessa perspectiva de crescimento da eólica na matriz energética brasileira, de alcançar 2,5% em 2012, ainda é muito pouco. Aonde é que essa fonte de geração tem sido mais usada no mundo?Ricardo Simões: No ranking mundial dos principais produtores mundiais de energia eólica, os maiores são os Estados Unidos, seguidos por China, Alemanha, Espanha e Índia. Atualmente, amargamos a vigésima primeira posição.Roberto Müller: Por que esse atraso todo, é problema de complexidade tecnológica?Ricardo Simões: Não, não é. Como falávamos, o Brasil está crescendo como uma base de produção de energia eólica e passará a dominar ainda mais essa tecnologia. É preciso concordar que estávamos atrasados, mas em dezembro do ano passado, houve uma mudança nesse paradigma. Era inimaginável pensar no início de 2009 que chegaríamos ao final do ano com a contratação de 1,8 mil MW de energia eólica. Acho que o dia 14 de dezembro de 2009 mudou completamente o cenário de energia eólica no País, por isso, estamos extremamente confiantes de que o leilão deste ano trará uma demanda da ordem de 1,8 mil ou 2 mil MW de energia dessa fonte para o Brasil.Milton Paes: O Brasil, graças a Deus, é privilegiado. Uma grande preocupação mundial é em relação à escassez da água. Com essa projeção no futuro, a eólica passa a ter uma importância grande e positiva nesse cenário, vocês têm essa visão lá na frente?Ricardo Simões: Especificamente, em relação ao Brasil, andamos juntos com a geração hidráulica que é a base de capacidade instalada nacional. Olha, para você ter uma ideia, Milton, o mapa eólico do Brasil, com medições feitas a 50 metros de altura, aponta um potencial de geração de 143 GW. Se considerarmos as medições que estão sendo feitas agora, ao patamar de 80 a 100 metros de altura, nos levam ao potencial de quase 400 GW, o que traz uma enorme oportunidade para ser desenvolvida ao lado das outras fontes de energia renováveis no Brasil.Márcia Raposo: Já há parques eólicos funcionando na Europa na altura dos 80 metros?Ricardo Simões: Sim, já existem sim, e até mais altos, a 108 metros. No Brasil, apesar de nosso mapa eólico ter sido feito a 50 metros e as primeiras medições a 80 metros estarem ainda sendo efetuadas, o País já possui produção de equipamentos para esses 108 metros. Se continuarmos contratando de forma regular cerca de 2 mil MW ao ano passará a dominar a tecnologia de energia eólica, assim como já acontece com os carros flex, ninguém no mundo possui essa tecnologia tão avançada, e com a energia eólica pode acontecer o mesmo se nós tivermos mercado.Márcia Raposo: Voltando à questão industrial. Você disse que grandes players estão vindo. Esses investimentos precisam de capital e estamos saindo da pior crise econômica após a de 1929. Aqui, no Brasil, não foi tão forte, mas lá fora sim, o que, certamente, tira o fôlego de investimentos. Agora, estamos vivendo uma nova perspectiva de turbulência na Europa, ninguém sabe a dimensão nem a duração. Esse cenário acelera a vinda deles para se abrigarem em um mercado em expansão ou atrapalha os planos de aportes no País?Ricardo Simões: O que nos temos notado é que o Brasil tem estimulado um grande apetite dos grandes grupos europeus que trabalham com energia eólica naquele continente. Porém, como eles têm um mercado contratado, não acredito que a indústria eólica por lá tenha algum problema de quebra de contrato.Márcia Raposo: Não me refiro à quebra de contrato, mas às taxas de crescimento.Ricardo Simões: Eles certamente não terão taxas de crescimento nada brilhantes em seus mercados e, obviamente, o investimento nessa área no Brasil é uma alternativa para esses grupos porque, em referência a financiamentos, nós temos aqui instituições como o BNDES e o BNB que têm participado do esforço dos geradores e a indústria eólica para concretizar esses parques.Milton Paes: Como é que está a pesquisa junto a instituições no desenvolvimento da tecnologia para a captação e distribuição de energia eólica no Brasil?Ricardo Simões: O que nós conhecemos hoje está no âmbito das empresas - essas companhias têm feito inúmeras pesquisas. Especialistas falam que o grande salto para melhoria da geração eólica está no desenvolvimento tecnológico, do material e da aerodinâmica.Roberto Müller: Em termos comparativos, o que é mais econômico e o que é mais abundante, vento (eólica) ou energia solar?Ricardo Simões: A onda da energia solar, no Brasil, ainda está por vir. No momento, estamos assistindo ao início da onda da eólica, por isso, acredito que o País precise, ainda, surfar essa onda. Também temos bastante sol no mesmo lugar que temos os ventos e é possível imaginarmos, no futuro, os parques eólicos serem geradores de energia solar. E, como eles ocorrem no mesmo lugar e no mesmo momento, acabam sendo complementares à hidroeletricidade.