Há muito, mesas de bares e restaurantes na cidade de Santos e arrabalde ouvem falar da nebulosa negociação da dívida da Libra com o Porto de Santos (SP). Superando hoje mais de R$ 2,5 bilhões, e sendo negociada para a operadora portuária não pagar nada e receber de troco alguns milhões, essa contabilidade de conto policial causa natural indignação na sociedade.
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Compondo o extenso quadro de personagens desse intricado caso, nos seus mais recentes capítulos atuam com destaque um desembargador federal; o ex-presidente da Câmara dos Deputados e hoje presidiário, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); figurões de proa do governo, da política e de órgãos fiscalizadores. Depois de 20 anos tentando, sem sucesso, dar um calote na viúva, fica difícil acreditar que essa estratégia obscura e nada republicana garanta vitória plena da Libra Terminais e seus parceiros.
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É notório que Geddel Vieira (PMDB-BA) começou seu caminho para a prisão quando bateu de frente com a burocracia brasileira que, herdada dos portugueses, é uma entre as melhores no mundo. Nela nada fica solto. A "era digital" se encarrega de alimentar com eficiência dados elaborados e em quantidade para produzir provas robustas. Desde as competentes sentenças proferidas em 23 de março pela juíza da 4.ª Vara Federal de Santos, Alessandra Aguiar Nuynes Aranha, aconteceram muitos fatos relevantes para esclarecer a turva verdade do caso Libra no Porto de Santos.
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Em tempos de redes sociais, surpreende como correm escondidas e silenciosas essas negociações envolvendo um vultoso patrimônio público sem respeitar o princípio constitucional da publicidade. Um exemplo do que não se deve tolerar em governança. E bem distinto dos princípios declarados pela Libra em seu site, que é o de “crescer de forma ética e respeitando a sociedade”.
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Diante disso, avulta uma trama possível de multiplicar os altos valores em jogo, de forma desabusada. Não é difícil detectar indícios de um processo de maquiagem de um terminal a ser negociado a preço de libra de ouro com alguma firma estrangeira. Todos os valores pagos lá fora do Brasil.
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Dia desses, o ex-diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, avaliou que o modus operandi do poder, com a Lava-Jato e tudo, continua igual. Ou seja, os humanos continuam os mesmos. Contudo, o mundo vem fortalecendo o conceito de Compliance, para que as empresas estejam em conformidade com leis e regulamentos internos e externos. Muito provavelmente, os participantes desse golpe de mestre, individualmente, podem ter apenas uma vitória de Pirro: pelo preço alto a ser pago, ganham mas não levam.
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