O porto não pode sobrepor a dimensão humana da cidade portuária.
É meia verdade a frase, “Santos é ignorada na privatização do porto”, dita por seu prefeito, Rogério Santos (PSDB), na entrevista ao jornal folha de São Paulo, desta segunda-feira, 13. E alega que as cidades da região – o porto margeia três cidades – têm sido ignoradas no processo de privatização. Dito de outra forma, esses prefeitos não se relacionam adequadamente com o porto, que sustenta os seus municípios e causa problemas que devem ser evitados. Ou seja, há uma miopia portuária nessas gestões.
Movimento e trabalhadores do porto na escadaria da Prefeitura de
de Santos (1963). Crédito: Novo Milênio: Histórias e Lendas de Santos.
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Relação porto-cidade é uma pauta definitiva nos principais fóruns portuários mundiais. O conceito de atitude ESG – iniciais inglesas representando Ambiente, Social e Governança, em português - , surgiu na Organização das Nações Unidas – ONU e norteia com eficácia as boas práticas no relacionamento do porto com os municípios que ele impacta. No caso de Santos, o quadro da prefeitura tem técnicos competentes de excelente qualidade nessa área, entretanto, nem sempre considerados nas decisões políticas.
Movimento de trabalhadores portuários (1990). Crédito: Novo Milênio: Histórias e Lendas de Santos.
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A prova cabal e atual dessa realidade, para citar um caso, está na reconstrução da ponte sobre o rio Casqueiro, sem estabelecer altura (calado aéreo) para o trânsito de contêineres em barcaças. Assim, poder estender o porto por hidrovias. A razão é que, sem levar em conta a logística portuária, o foco está na obra utilizada como contrapartida para justificar a renovação, festivamente apoiada por deputados da região, do aditamento prorrogando o contrato de concessão do sistema Anchieta-Imigrantes, até 2033. Com acordo da prefeitura de Santos.
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Qual a posição do prefeito Rogério Santos sobre a instalação do navio-tanque em área da cidade de Santos, como armazém de gás com potencial de 55 bombas de Hiroshima? O poder municipal não pode e não deve ser tomado por agente lobista, por causa de posições político-administrativas que desatendam os interesses comunitários. Por isso, como boa governança, o fundeio do navio que armazena gás, do grupo Cosan e que causa riscos sociais e ambientais, deve ser debatido pela população ameaçada.
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Se os municípios que margeiam o Porto de Santos não conseguem participar do debate da sua privatização, precisam aprender com o município de Itajaí (SC), como se administra uma cidade portuária. Portogente tem abordado essa questão em webinars, no seu jornalismo e nas redes sociais. A manifestação do prefeito de Santos, ao jornal Folha, peca por desinformada e por visões distorcidas nas suas conclusões. Sem um projeto conceitual, abrangente e com realidade, chega atrasado sem a lição feita.
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De fato, é preocupante o processo de desestatização. Mesmo assim, as cidades que margeiam o Porto de Santos não constroem discursos à altura do desafio de implantar um porto do futuro e cidades portuárias para pessoas. Decerto, o comércio e o turismo marítimos internacionais, do novo padrão de porto tecnológico e sustentável, pedem passagem. E o debate continua.
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