Os planos sobre a relação porto-cidade foram o foco da reunião realizada entre a Autoridade Portuária e a Prefeitura de Santos, no dia 18 de dezembro último, no Porto de Santos, no litoral paulista. Na visita institucional do ex-prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), e do seu sucessor eleito, Rogério Santos (PSDB), a pauta incluiu os futuros empreendimentos que serão desenvolvidos, como a ligação seca entre Santos e Guarujá e a licitação para um novo terminal de passageiros.
As relações entre Santos e o maior porto da América Latina. Crédito: Márcia Costa.
O balanço anual de atividades do Porto de Santos, divulgado no site da companhia, também aponta realizações importantes para o próximo ano, como preparar o Porto para receber grandes navios e projetar a construção, em 2021, do túnel ligando as cidades de Santos e Guarujá.
Na apresentação do balanço anual do Porto, o presidente Fernando Biral afirma que a Autoridade Portuária estabeleceu em 2020 uma agenda voltada ao fortalecimento da relação Porto-Cidade “com ações concretas que buscam fomentar projetos sociais, turísticos, culturais e de mobilidade urbana: túnel Santos-Guarujá, realocação das famílias da comunidade Prainha, remodelação do Valongo com um novo terminal de cruzeiros e restauração do navio histórico Prof. Besnard”.
Balanço anual
A Autoridade Portuária destaca os sucessivos recordes de movimentação de cargas em 2020, mesmo com a pandemia, avanços que resultaram em mudanças estruturais e permitiram fomentar novos investimentos pela iniciativa privada. Entre as ações realizadas, cita as aprovações da nova poligonal e do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto de Santos (PDZ), os leilões. Para os próximos anos anuncia “a mudança do comum para o inovador”.
Segundo Biral, no primeiro bimestre de 2021 a Autoridade Portuária abrirá chamamento público para receber doação de estudos que subsidiem a construção de um túnel. “Sem quaisquer ônus para a SPA, poderão ser aproveitados no âmbito do modelo de desestatização do Porto, que está em curso. A concepção deverá levar em conta as necessidades de mobilidade urbana entre as duas cidades, para atender tanto aos pedestres e ciclistas, quanto aos automóveis, prevendo a inclusão da extensão do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que hoje chega até as imediações do futuro empreendimento”.
O presidente da Autoridade Portuária também apontou a importância de se investir em dragagem e a necessidade de preparação do Porto para a chegada dos navios de 366 metros de comprimento, outro passo de fundamental importância para o crescimento do Porto de Santos. “Segundo a Diretoria de Operações, os estudos geraram uma base de informações que permite concluir pela possibilidade de atracação dos navios de 366 metros, com restrições”.
Reunião entre prefeitura e Porto
Rogério Santos (PSDB), prefeito eleito de Santos, contou que durante reunião com a Autoridade Portuária discutiu-se a necessidade de se gerar mais empregos, trazendo mais empresas para a cidade com a participação cada vez maior do Porto e a contrapartida dos terminais para o desenvolvimento da região.
“O desenvolvimento do centro inclui investimentos em nos seis bairros da região central que têm relação intrínseca com o Porto. “Os terminais precisam se envolver nos parques tecnológicos, na ocupação de áreas retroportuárias na área da Alemoa e outras áreas possíveis com parceiros da cadeia produtiva e logística da área portuária – tanto prestadores de serviço na área de manutenção quanto fornecedores de suprimentos, muitas vezes não localizados em Santos. Para isso queremos e contrapartida dos terminais”.
O tema da ligação seca foi outro assunto discutido tanto com na reunião em Santos quanto no recente encontro com o ministro Tarcísio de Freitas, citou o prefeito. “Nós conversamos sobre a possibilidade da ligação seca através desse novo modelo de gestão da Autoridade Portuária que o governo federal está preparando e também da possibilidade da ligação não só de túnel, mas de ponte”.
O município defende as duas ligações como sendo complementares e diferentes. “O túnel sendo principalmente para a questão urbana, porque sem o túnel, ali nas proximidades da Ponta da Praia ainda teremos a balsa e sabemos que a movimentação do Porto é de ter ainda mais movimentação ainda com a cabotagem, o projeto BR do Mar, e isso trará uma maior movimentação para o Porto. E consequentemente, cada vez que passa um navio, as balsas param, então é necessária essa ligação seca de Santos com Guarujá”.
Já a ponte, segundo ele, teria outra proposta: “Com metodologia de engenharia que não atrapalhe a passagem de navios, não atrapalhe a movimentação de terminais, mas que traga o desenvolvimento para a Área Continental de Santos, não só na questão industrial, portuária, mas no desenvolvimento urbanístico, dos bairros da Área Continental de Santos”.
O Porto de Santos e o governo federal, no entanto, defendem a implantação do túnel como forma de solucionar o problema da mobilidade urbana e de não prejudicar a expansão do Porto, o que levanta a questão: ponte e túnel são projetos compatíveis?
Para 2021, quando as expectativas sobre a melhoria da relação porto-cidade – com a possível concretização da ligação seca e outros projetos - se tornam maiores, aguarda-se que os investimentos que venham a ocorrer sejam muito bem estudados e planejados, com base na sustentabilidade, e que se revertam em reais benefícios para o Porto e a população.
* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.