Quarta, 01 Mai 2024


Na foto clicada por Benê Siqueira, nas dependências do Shopping
Parque Balneário, mais precisamente em frente ao Café da Beth,
vemos o  nosso memoralista Tatau, que deu a idéia deste artigo, os
jornalistas Edison Carpentieri, Clovis Hazar, respectivamente
editor e fundador do conhecido Jornal da Orla e do autor. (Março-2006). 


Este artigo deve-se a um feliz encontro com o amigo José Carlos Fonseca Lopes, conhecido carinhosamente pelos amigos como Tatau, num fim de semana no Shopping Parque Balneário, local de encontro aos sábados de vários amigos para um bate-papo descontraído e alegre. Entre os vários assuntos, Tatau lembrou da passagem do transatlântico Brasil que nos anos 70, já estava sendo operado pela Holland American Lines na área de cruzeiros marítimos. Ele era um dos organizadores dos cruzeiros na empresa Orbe Turismo, que ficou muito conhecida na nossa Cidade. Por ter navegado durante alguns anos como navio de passageiros da Mooremack e no caso, como navio de turismo.

Vale lembrar que conheci Tatau através de Benê Siqueira, mais precisamente na porta de entrada do Museu do Café, quando após um almoço no restaurante Paulista dávamos um passeio pelo Centro Histórico de Santos.

 

O Brazil, ex-Virginia, um dos integrantes da Frota da Boa

Vizinhança que teve seu início em 1938, ligando EUA com

a América do Sul. Foto: Internet


A Moore McCormack Lines, companhia de navegação dos Estados Unidos entrou nas operações pós-Segunda Guerra Mundial com uma frota de 33 navios mistos (de transporte de cargas e de passageiros), de construção recente ou reprojetados, equipados com instalações para atender às exigências mais requintadas dos exportadores e dos viajantes da época. Essas informações são da armadora.

Em três rotas vitais unindo uma dúzia de países, esses navios incluíam um grupo de sete novos cargueiros, combinando características especiais com o projeto básico, os três grandes transatlânticos de luxo da chamada “Frota da Boa Vizinhança” (Brazil, Argentina e Uruguay ) e 23 modernos cargueiros - todos construídos a partir de 1940.

Os itinerários incluíam algumas das mais importantes rotas comerciais do mundo. Movimentavam alimentos, matérias-primas e produtos manufaturados em dois serviços distintos entre os portos do Atlântico e do Pacífico dos Estados Unidos e do Canadá e a costa leste da América do Sul.

Cartão-postal de Boas Festas da Moore-McCormack Lines,

mostrando o SS. Uruguay no porto do Rio de Janeiro, final da

década de 1940. Imagem: Internet


Em uma terceira linha marítima, eles atuavam entre os portos da costa atlântica dos Estados Unidos e os países escandinavos e bálticos da Europa. De acordo com a Moore-McCormack, um papel vital, de fato, na construção de uma saudável economia mundial.

Início
A primeira operação empreendida pela armadora logo após a criação, em 1913, envolveu o envio do Montara para o Brasil.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o navio de passageiros Saga era operado pela Moore-McCormack entre os Estados Unidos e o Brasil e a Argentina, proporcionando o único serviço de bandeira neutra disponível na rota durante um período de três anos.

No ano de 1958, chegou o novo Brasil (agora com S) com suas linhas

modernas e arrojadas para a época, com casco e superestrutura da cor branca.

Foi um dos mais belos transatlânticos dos anos dourados. Imagem: Internet


Desde os dias daquela aventura pioneira, os navios da Moore-McCormack estiveram identificados com o tráfego sul-americano.

Boas relações
Em 1938, há 68 anos, quando a Comissão Marítima dos Estados Unidos estabeleceu a “Frota da Boa Vizinhança”, foram honrados com a nomeação de operadores.

Quando o serviço foi planejado, em 1938, com o Brazil, o Uruguay e o Argentina, alguns observadores opinaram que o empreendimento seria mal sucedido.

Primeiro, porque a demanda de acomodações para a América do Sul não seria suficiente para merecer navios tão grandes.

 

O S.S. Argentina, ex-Pennsylvania, atracado no porto do Rio de

Janeiro, e foi um dos mais conhecidos navios que passaram pelo Brasil.

Foto: Internet

 

Segundo, porque a viagem de ida e volta de 38 dias seria muito longa para o turista.

Argumentava-se que, em 1937, os passageiros transportados pelas duas linhas que operavam saídas semanais alternadas da costa do Atlântico dos Estados Unidos para a costa leste da América do Sul somaram apenas 7.500.

Sucesso
Ao final de 1939, o primeiro ano completo de operação de navios da “Boa Vizinhança”, o balanço registrava o transporte de 15.050 passageiros, o dobro do volume de 1937.

Em 1940, o total aumentou para 18 mil passageiros e, em 1941, apesar da ameaça de os Estados Unidos entrarem na guerra, subiu para 30 mil, quase o triplo do total de 1937.

Não só havia mais gente dos Estados Unidos visitando a América do Sul, mas cada vez maior número de sul-americanos se dirigia ao norte.

O Brasil, agora visto como Volendam da Holland American Lines, com o casco pintado na cor preta e sendo utilizado como navios de cruzeiros marítimos.

Foto: Internet


Antes, os latino-americanos viajavam para a Europa, em parte porque os navios europeus para a América do Sul eram muito superiores aos navios ligando as Américas do Norte e do Sul.

Interesse
Quando os luxuosos navios da “Boa Vizinhança” entraram no serviço, os sul-americanos ficaram imediatamente impressionados com o tamanho e o conforto das embarcações e começaram a vir em grande número para o Brasil e América do Sul como passageiros.

O intercâmbio de estudantes foi encorajado, bem como o intercâmbio de idéias e as relações da “Boa Vizinhança” começaram a ser firmemente estabelecidas.

Nada mais natural que milhares de viajantes fossem atraídos pelo roteiro dos navios, pois a paisagem na viagem pela costa leste da América do Sul era das mais belas e espetaculares.


O Brasil com o nome de Universe Explorer, atracado

em Skagway, Alaska, em maio de 2002. Foto: Internet


Os navios da Moore-McCormack escalavam primeiro em portos da Bahia e depois no Rio de Janeiro, então a Capital Federal do Brasil.

A seguir, a próxima parada era em Santos, o principal porto de café do mundo, onde incessante fluxo de sacas de café era carregado nos navios, para consumo nos Estados Unidos.

Chicago da América do Sul
Na viagem do sul (da Argentina e Uruguai) para o norte, era feita uma escala em Santos, para que os passageiros pudessem conhecer a cidade de São Paulo, considerada a Chicago da América do Sul e a terceira maior do território sul-americano, na época.

Montevidéu, no Uruguai, também integrante do trajeto, era a Cidade das Rosas. A próxima escala era Buenos Aires, na Argentina, então a cidade mais cosmopolita da América do Sul.

O cartão-postal mostra o amplo e moderno salão

de jantar do S.S. Brasil. – Anos 60. Foto: Internet


Chamada de Paris da América do Sul, Buenos Aires era a maior cidade da América Latina e era famosa pela riqueza, comércio e brilhante vida social.

Durante a guerra, de Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941) até o dia da vitória sobre o Japão, a Moore-McCormack operou mais de 150 navios, dos quais 11 foram perdidos durante o conflito, transportou 754.239 soldados e descarregou 34.410.111 toneladas de carga bélica.

O trio
Somente os três navios principais da “Frota da Boa Vizinhança” transportaram mais de 450 mil combatentes, em ações no Pacífico, no Atlântico e no Mediterrâneo, onde participaram da invasão no norte da África.

O trio fez as últimas viagens em tempos de paz, para a América do Sul, em fins de 1941, depois foram entregues ao governo dos Estados Unidos e rapidamente convertidos para acomodar até 8 mil soldados cada um.

 

O Brasil sendo recepcionado em Nova Iorque, na viagem

inaugural, escoltado por rebocadores da Moran e de

outras companhias, em 1958. Foto: Internet


Depois da Segunda Guerra Mundial, os três navios mistos voltaram totalmente remodelados, para a linha anterior, tornando-os poderosos fatores no incremento das viagens entre as duas Américas.

Esses navios proporcionavam, segundo conta Gérson da Costa Fonseca, o prático mais antigo de Santos, hoje aos 84 anos de idade, luxo e diversões de primeira qualidade aos passageiros, além de serem bons para manobras, o que facilitava o serviço.

Limpeza
O advogado santista Carlos Maia conta que fez uma viagem no Brazil, de Nova Iorque, Estados Unidos, para Santos, em 1957. Ele ficou impressionado com a limpeza a bordo. Todas as manhãs um oficial vinha vestido com luvas brancas e as passava nos corrimãos e móveis, com o objetivo de descobrir vestígios de sujeira.

Os navios tinham o casco pintado de preto e a superestrutura era branca. A chaminé ostentava o famoso M.

O Uruguay foi retirado de linha em 1954 e o Brazil e o Argentina, em 1958, quando vieram os novos e modernos Brasil (agora sim com S) e Argentina, que até a pouco tempo, ainda navegavam como navios de turismo.

 

Os novos Brasil e Argentina começaram a navegar em 1958. Ambos tinham o casco branco, assim como a superestrutura. Eram lindos e também fizeram muito sucesso: eu estive a bordo dos dois.

Tony Curtis a bordo
O ator Tony Curtis, dos Estados Unidos, passou por Santos, rumo à Argentina no transatlântico Brasil, em 1960, em companhia de Janet Leigh, e das filhas, uma das quais Jamie Lee Curtis, que hoje também é famosa atriz.

O casal Tony Curtis e Janet Leigh, com as

filhas Kelly e Jamie Lee Curtis, que passaram

por Santos a bordo do Brasil em 1960. Foto: Internet


Sempre tive grande admiração por esses navios. Em particular pela Moore-McCormack, cujos cargueiros eram excelentes e cumpriam, sempre que possível, as escalas nas datas determinadas nos anúncios.

Quando eu trabalhava na firma exportadora de café Volkart Irmãos, buscava e levava conhecimentos marítimos (documentos) na agência marítima da armadora, que ficava na Praça da República 82, em Santos. A Volkart exportava muito café para os Estados Unidos, para os portos de Jacksonville, Charleston, Baltimore e Nova Iorque.

Os cargueiros eram, principalmente, o Mormacmail, o Mormacpride, o Mormacvega, o Mormacbay, o Mormacmoon, o Mormacgulf, o Mormacpenn, e o Mormacisle.

Vale lembrar que depois, os transatlânticos Brasil e Argentina foram vendidos para a Holland American Lines, onde receberam os nomes de Veendam e Volendam, posteriormente foram transferidos para outras armadoras, onde foram batizados com outros nomes, como Enchanted Isle, Enchanted Seas, Universe Explorer, entre outros.

 

Características Técnicas:
Nome: Brazil, Argentina e Uruguay (Casco preto)
Bandeira: Estados Unidos
1.ª Armadora: Panama Pacific Lines, dos Estados Unidos
Tipo: Mistos
Estaleiro: Newport News Shipbuilding, de Virgínia, Estados Unidos
Ano de Produção: 1928/1929
2.ª Armadora: Moore-McCormack Lines
Deslocamento: 20.773 t
Comprimento: 186,84 m
Boca (largura) : 24,38 m
Propulsão: Turbina turbo-elétrica, 2 hélices
Velocidade de serviço: 31,5 km/h
Passageiros: 750 : 385 na 1.ª classe e 365 na classe turista
Fim de carreira: Os três foram demolidos em Nova Jersey em 1964.

Obs.: Não confundir os transatlânticos acima mencionados, com os novos Brasil e Argentina que iniciaram suas atividades em 1958 (os de casco branco).

 

Este artigo vai também para os amigos José Carlos Silvares, que também esteve a bordo de vários navios da Moore-McCormack e Armando Akio, que sempre admiraram os navios da Mooremack. Lembrando, Silvares, como Tatau, também são grandes admiradores da história do transatlântico Vera Cruz. Ambos foram passageiros do famoso navio nos anos 50.

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