Sexta, 17 Mai 2024

“O mar é mais belo que as catedrais” [La mer est plus belle que les cathédrales]. Paul Verlaine (1844-1896)

 

Para o poeta francês Verlaine, o mar assumia o signo da liberdade, o espaço imenso, o infinito. O verso toca uma questão típica da filosofia moderna da arte: em uma paisagem, o que é superior, a beleza da natureza ou a beleza das construções humanas?

 

O filósofo alemão G.W.F. Hegel (1770-1831), há quase dois séculos, em seus Cursos de Estética (1818-1829) defendia uma tese oposta à de Verlaine: “O belo artístico é superior ao belo natural”. Essa afirmação pode ser, a princípio, intrigante. Para Hegel, até mesmo uma má idéia, como, por exemplo, a tela de um pintor de fim de semana ou um poema de gosto duvidoso escrito na adolescência, tem mais valor do que o impressionante pôr-do-sol ocorrido no final do entardecer do último dia 9 de fevereiro.

 

Na Ponta da Praia, aqui na cidade de Santos, coroando o evento “Santos – Todos a Bordo”, que incluiu várias atividades culturais, a saudação a nove transatlânticos e queima de fogos, estava também o espetáculo do pôr-do-sol (veja ensaio de fotos). A paisagem privilegiada da baía de Santos com a gente bonita, céu, mar, sol e lua nova representou um forte contra-argumento para a tese de Hegel.

 

Foto: Bruno Rios/PortoGente

Embarcações do Corpo de Bombeiros e lanchas se encarregaram

de fazer o espetáculo em alto-mar, com jatos de água e saudações

aos navios e seus passageiros que zarpavam para dias de descanso

no Nordeste do Brasil ou na América do Sul.

Entretanto, do outro lado do estuário, na Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, está instalado um exemplo favorável à estética hegeliana (leia mais). O painel de 20 m² do artista Manabu Mabe – “Vento Vermelho”. Para Hegel, a arte é o resultado de um processo de humanização da natureza, um trabalho de aperfeiçoamento. A obra de arte transmite duração ao que na natureza só é transitoriedade.

A percepção do belo na natureza não é sempre a mesma, mas sim condicionada pelas sensibilidades específicas de cada cultura ou época histórica. O professor e filósofo Charles Feitosa enfatiza que as paisagens alpinas na Europa, com suas montanhas cobertas de gelo permanente, eram consideradas monótonas e entediantes pelos viajantes do século XIX, mas se tornaram hoje uma importante atração turística. A chuva está associada na cultura ocidental urbana com tristeza, melancolia, solidão e morte. Por isso mesmo há relativamente poucas telas representando paisagens chuvosas na história européia da arte. O mundo oriental, ao contrário, tende a perceber a chuva de maneira mais positiva, como uma oportunidade de revitalização da terra e da vida em geral.

Falecido em 1997, Manabu Mabe deixou obras em museus de diversos países. Ao visitar a Fortaleza da Barra, no mesmo ano do falecimento, ficou sensibilizado com a luz natural que entrava pela única janela da capela e criou o Vento Vermelho, um painel com 350 mil peças (placas, pastas e pastilhas).

Imagem: www.novomilenio.inf.br

“Vento Vermelho” (Manabu Mabe), em foto de Yoshino Mabe.

O artista plástico Manabu Mabe está sendo homenageado no projeto Vapores da Imigração, com exposição de suas obras na Fortaleza da Barra Grande, neste início de 2008. Yugo Mabe, filho do artista, acompanhado pela Comissão do Centenário da Imigração Japonesa, em dezembro do ano passado, ressaltou a existência de mais de 2.500 obras. Na capela, onde está o mosaico Vento Vermelho, também ficará a gravura original, afirmou Yugo.

Na próxima semana, continuaremos a explorar essas belezas.

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