A não ser que você seja corredor em circuitos de Fórmula 1 e assemelhados, ou atleta de competição, geralmente a pressa será inimiga da perfeição, como se constata na morte do protagonista da série de filmes "Velozes e Furiosos". É que para uma coisa ser bem feita, existe uma limitação de tempo que não pode ser transposta. Mas também, a demora se torna inimiga da perfeição, pois esta reside em entregar o resultado esperado no momento em que ele se faz necessário. De nada adianta remédio ótimo para paciente que já morreu, ou que a Justiça dê uma excelente decisão num caso em que vítima e réu já não estão neste mundo.
Também se diz que o bom é inimigo do ótimo: para o artista pintor, sempre faltará uma pincelada; para o escritor perfeccionista, há sempre uma vírgula por acrescentar, perfeição é algo inatingível. Então, às vezes vale priorizar algo nem tão perfeito, mas que funcione dentro das expectativas razoáveis.
Mas, por que todo este comentário? Por que, no Brasil, conseguimos o pior dos mundos: a extrema demora até que uma decisão seja tomada – muitas vezes propositalmente, para forçar que seja tomada não a melhor decisão, e sim a mais conveniente a certos interesses –, aliada à extrema pressa em fazer algo após tomada essa decisão – principalmente para que se torne irreversível, por pior que seja.
Por exemplo, deixa-se instalar o caos logístico, para que não se possa fazer a licitação normal, cumprir os requisitos necessários, abolir normas de qualidade e segurança. Então, toma-se a decisão ditada pelas circunstâncias emergenciais, muito mais onerosa e muito menos eficaz. Em seguida, tudo é iniciado atabalhoadamente, para garantir que não possa ser cancelado. Como corolário, depois dos principais desembolsos feitos, abandona-se tudo o que era urgente e prioritário, nada se resolve, o foco agora é numa nova e lucrativa emergência.
Foto: Bruno Santos/Terra
Estádio corintiano: pressa levou a falhas e mortes
Os exemplos são constantes, e o mais recente – pelo menos até o fechamento desta coluna – é a tragédia no estádio do Corinthians na capital paulista, em ritmo acelerado de obras por causa da Copa do Mundo. Mesmo sem abrir a famosa "caixa preta" do guindaste, outras caixas pretas vão sendo abertas, mostrando que procedimentos de segurança e de qualidade foram deixados de lado, em nome da pressa em recuperar o tempo inutilmente perdido.
Foto: Bruno Santos/Terra
Antipropaganda do Brasil, correndo o mundo...
E isso com a navegação marítima, o comércio exterior? Ora, em tese a Copa do Mundo e as Olimpíadas são uma grande vitrine tecnológica e da capacidade empreendedora de um país. Serve para exaltar nossos produtos, nossa tecnologia, mostrar que somos capazes de muita coisa. E quando os holofotes se acendem, que temos? Um guindaste caindo com uma seção de um estádio. O atabalhoamento logístico nos acessos. Os jeitinhos safados, a corrupção, a incompetência, cercando todo o esquema de obras.
Você compraria algo de um vendedor tão confuso, desonesto e atrapalhado assim? Pois é: em vez de encherem nossos navios com mercadorias exportadas, esses dois grandes eventos desportivos só contribuem, dia a dia, para desprestigiar ainda mais o Brasil e o que aqui é feito. Com assaltos e mortes a cada minuto, estádio despencando, atrasos enormes, erros crassos nas decisões, caos viário e suspeitas de todo tipo, será muito de admirar que o turismo cresça e que nossas exportações aumentem nos próximos anos.
Não espero perfeição. Mas, avacalhar assim, já é demais.