Terça, 23 Abril 2024

Diz o ditado popular que bom cabrito não berra. Por muitos anos, como o bom cabrito, a Baixada Santista não berrou, mesmo vendo crescer ano a ano o problema do congestionamento nas rodovias de acesso ao porto de Santos, até se transformar no atual caos viário que paralisa a região, sem que o governo estadual – ao qual compete a ampliação das estradas e o seu regramento de uso – tomasse qualquer atitude, afora dizer belas e inócuas palavras. Até que as pessoas se lembraram de outro ditado, e resolveram colocar o bode bem no meio da sala de visitas. Efeito imediato: repentinamente, tudo o que antes era impossível de fazer foi feito, autoridades antes inertes trataram de se mexer, para tirar do centro das atenções o insuportável bode.

 

Até fins de maio, qualquer solução para reduzir os congestionamentos nos acessos ao porto de Santos dependia de obras viárias custosas e sempre adiadas ao infinito, e que, mesmo se por milagre fossem iniciadas hoje, só ficariam prontas a tempo da Copa do Mundo de… 2018, a da Rússia. Sequer as multas aplicadas a empresários irresponsáveis surtiam efeito, pois o valor máximo da multa é muito inferior ao lucro de usar estradas intermunicipais e vias públicas urbanas como silos e armazéns.

 

Mas, bastou que fosse colocado no meio da sala o bode da proibição dos pátios de caminhões funcionarem à noite, que o cheiro percorreu o país e soluções bem mais imediatas apareceram. Um Comitê Gestor Integrado começou a se reunir; a Ecovias (concessionária do sistema rodoviário Anchieta-Imigrantes) encontrou formas de viabilizar imediatamente o monitoramento e a retenção de veículos no Planalto Paulista, sempre que os congestionamentos na Baixada Santista ultrapassarem os 5 km (que antes dizia ser muito difícil, por não ser um procedimento normatizado); o Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo anunciou um plano para eliminar um dos focos do problema, na transposição de uma linha férrea próxima ao polo industrial de Cubatão; a Codesp e os empresários trataram de acelerar a integração logística para acabar com as filas. Até as licenças ambientais, tradicionalmente retardadas por anos para a realização de obras na serra do mar, saíram instantaneamente para as obras de ampliação rodoviária.

 

Só o governador Alckmin destoou, agindo como o mau cabrito da história: berrou contra a colocação do bode na sala, tentou erradicar por liminar o cheiro do bode (acabou colocando um segundo bode na sala, agravando o problema)… perdeu mais capital político (ao deixar clara a incapacidade para lidar com os efeitos da inércia de seu pessoal) que a prefeita de Cubatão, que se arriscou politicamente para forçar o surgimento de soluções.

 

Enfim, graças ao bode, a fila começou a andar. O risco é que faltem bodes para colocar na sala em relação aos demais problemas nacionais, agora que os brasileiros descobriram que existe uma solução para fazer as autoridades se mexerem…

 

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