Domingo, 24 Novembro 2024

Viajando pelo Brasil, encontramos, em muitos estabelecimentos, mesmo nos pontos mais interiores do País, uma plaquinha na parede, com o dístico: "Não fale em crise... trabalhe!". Serve ela para lembrar que o mundo vive em crise desde que surgiu, varia apenas o grau da percepção do problema e de como a crise nos afeta. Atribui-se ao ex-presidente estadunidense John F. Kennedy a observação de que o ideograma chinês para a palavra crise é composto de dois outros, um significando perigo e outro significando oportunidade.

 

O clichê, aliás, foi repetido recentemente pela secretária de Estado norte-americana Condoleeza Rice, em uma viagem pelo Oriente Médio para resolver mais uma daquelas crises que os Estados Unidos fabricam na região, para aproveitar oportunidades em meio ao perigo. Lembrou ela que crise, no principal idioma chinês, é weiji. Na verdade, explica na Internet um certo Adam Sun, em chinês, wei significa uma situação de risco, e um dos significados de ji (chance), pode ser associado a hui para formar jihui (oportunidade). Torceu-se bastante o idioma para associar crise a oportunidade, e isso começou em 1959, quando Kennedy falava a estudantes no United Negro College Fund, no estado de Indiana.

 

O mesmo autor lembra que, em português, crise significa "momento perigoso ou decisivo" e, se quisermos forçar a interpretação, podemos dizer que "momento" significa "oportunidade". Assim, também em português teríamos oportunidades na raiz das crises. E crise é palavra que veio do termo médico grego krisis, designando certo momento decisivo entre a cura e a morte de um paciente.

 

Na verdade, a História é melhor mestra do que a Semântica, nesse assunto, pois pode apresentar exemplos práticos de gente que soube transformar grandes crises em grandes oportunidades. Gente que, em vez de ficar falando em crise, tratou de aproveitar as brechas dadas por um mercado fragilizado e iniciar pequenos negócios que, passada a tempestade, se transformaram em grandes empresas, inclusive multinacionais.

 

Poderia citar também muitos exemplos em inúmeros países, inclusive no berço da "crise atual" (ou, melhor dizendo, no país onde surgiram as trapalhadas econômicas que geraram este momento mais agudo da permanente crise mundial). Mas o leitor pode consultar livros de biografias e histórias de empresas, provavelmente descobrirá que na raiz das grandes empresas de sucesso estava uma história de crise transformada em oportunidade para novos negócios.

 

Fiquemos entretanto em terras brasileiras, onde tal assunto precisa ser melhor explorado e divulgado. Na coluna anterior, comentamos a coragem de empresários gaúchos, que estão investindo pesadamente na construção naval. Mas, não são apenas os gaúchos os brasileiros corajosos, que trabalham para impedir que a tal crise mundial afete seus negócios. Outros exemplos existem, em todos os quadrantes do país, e é pena que investidores estrangeiros, em vez de perceberem as oportunidades de crescimento, prefiram "assegurar" seus recursos comprando dólares norte-americanos, iludidos pela valorização cambial da moeda. Valorização que é artificial, provocada justamente pela demanda por dólares, de filiais que precisam enviar recursos para socorrer as matrizes falidas, e de fundos de pensão que a cada susto no mercado imediatamente se retraem e, por essa má gestão, perdem grandes oportunidades de investimento e lucro. Passado o susto, o dólar estadunidense volta a cair como vinha acontecendo, e os recursos transferidos para essa moeda simplesmente evaporam...

 

Mas, vamos falar de oportunidades. Uma delas, no ramo ferroviário, está acontecendo justamente nestes dias. E será tratada na próxima coluna.

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