Esta semana estava lendo um texto clássico da sociologia. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XX escrito por Harry Braverman (1920-1976), um comunista norte-americano que trabalhou em indústrias na década de 1940.
O objetivo do livro publicado em 1974 é desvendar as tramas da gerência cientifica, colocando seu desenvolvimento e as suas conseqüências para o trabalho e o trabalhador. Analisando o processo de produção desenvolvido por Frederick Taylor, Braverman demonstra como a fragmentação do trabalhador no processo produtivo degrada seu trabalho não somente em termos salariais, mas principalmente nos termos do conhecimento objetivo e subjetivo do trabalhador sobre o seu ofício.
* Gênero e trabalho: o trabalho portuário em questão
* O novo trabalhador portuário e a ação coletiva
Passado mais de 35 anos da 1ª edição da obra, é possível perceber como o trabalho de Braverman é atual. Se fizermos uma análise do trabalho portuário após o processo de modernização portuária a luz da obra de Braverman perceberemos o quanto a introdução da maquinaria no processo de trabalho portuário fragmentou o trabalhador. Ao mesmo tempo em que temos a implantação da multifuncionalidade e da nomenclatura TPA, percebemos que o trabalhador portuário perdeu parte de seu domínio sobre o processo de trabalho a ter a máquina como mediadora do processo.
Mais especificamente antes da conteinerização, podíamos ver uma relação mais direta do trabalhador com seu ofício. Apesar da divisão do trabalho existente nos portos brasileiros o trabalhador era mais cônscio do processo produtivo por completo, tendo maior contato com o produto do seu trabalho, no caso a carga. Hoje a carga passa pelos portos brasileiros através de enormes caixas de aço ou de tubos gigantescos, sem o trabalhador saber aquilo que embarca ou desembarca. Cresceu o número de trabalhadores com maior escolaridade, mas ao mesmo tempo diminui-se a necessidade de conhecimentos específicos, dados pela natureza do trabalho.
Olhando desta maneira, podemos dizer que Harry Braverman ainda tem muito a nos dizer e que o trabalho continua se degradando, para muito além do século XX.
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981