Quinta, 25 Abril 2024

Desde o começo de setembro estou tendo a oportunidade de participar de um curso de extensão a distância sobre contêineres. Promovido pela Secretaria de Educação de Santos, o curso tem o objetivo de permitir a pessoas da área e demais interessados conhecer o que é o contêiner, como funciona o transporte e refletir sobre as conseqüências e soluções desta forma de manuseio de carga.

Na semana passada o curso apresentou vídeos sobre vários portos do mundo. Um deles me deixou muito assustada. O vídeo é sobre o Euromax Terminal, localizado em Rotterdam. 

O que impressiona é o fato de quase não haver trabalho humano, ou como diria Karl Marx, trabalho vivo nas docas. Porteineres e transteineres são acionados por operadores em uma sala de computadores, onde é possível levar contêineres de caminhões a navios com o simples clique de um mouse. 

Segundo comentários apresentados no curso, este terminal, conhecido por Ghost Terminal (ou terminal fantasma em português), opera, em sua maioria, sem trabalho humano por não haver profissionais para a realização deste serviço. Este dado me deixou intrigada, pois conforme é possível ver neste link e nos artigos de Oliveira (2000) e Kreukels (1999), o Porto de Rotterdam possui trabalhadores qualificados e organizados.  Desta forma, é possível levantar outras questões sobre a automação do terminal. 

Um dos elementos que pode levar a extrema mecanização apresentada no Ghost Terminal é o fato de que a eliminação do trabalho humano acaba com os acidentes de trabalho, mas também termina com os imponderáveis existentes nas relações humanas, como o conflito capital-trabalho. Este é um fator decisivo no processo de automação. 

Isto, pois, a automação, quando elimina um bom número de postos de trabalho, diminui os custos, entre outros com qualificação, e torna os produtos mais baratos e competitivos no mercado, o que faz com que a produtividade e a lucratividade aumentem. Entretanto, quando a automação é introduzida sem preparo das demais áreas para receber o montante de mão-de-obra dispensada pelo processo de reestruturação produtiva, o desenvolvimento econômico não é acompanhado pelo desenvolvimento social. A automação é um processo inerente ao desenvolvimento dos meios de produção, entretanto para que ela funcione realmente, ela deve ser pensada como multidimensional, como geradora de desenvolvimento em todas as áreas.

Para compreendermos como isto é possível, devemos relembrar da experiência da Câmara Regional do Grande ABC, que no início dos anos 1990, com a reestruturação produtiva do setor automotivo, viu a diminuição dos postos de trabalho e a possibilidade de suas cidades caírem nos níveis de qualidade de vida, que sempre foram expressivos em termos nacionais. A Câmara, esta nova institucionalidade hoje chamada Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, reuniu os três setores da sociedade, Estado, Mercado e Sociedade Civil, buscando soluções a curto e longo prazo que permitisse a continuação do desenvolvimento da região em todas as áreas. Esta experiência fez com que São Caetano do Sul ainda continue a ser uma das melhores cidades brasileiras para se viver e que São Bernardo ainda seja o reduto das maiores fábricas e montadoras do setor automotivo do Brasil. 

Ou seja, quando pensada multidimensionalmente, a automação pode ter resultados positivos, inclusive não dispensando completamente a mão-de-obra, mas tornando-a mais qualificada e melhor remunerada, o que contribui para o desenvolvimento econômico e social da região onde a fábrica ou, no nosso caso, o porto esteja localizado. Desta forma, podemos dizer que o Ghost Terminal é um objetivo que devemos ter, mas pensando em como ele pode desenvolver qualificação e, consequentemente, conhecimento sobre a tecnologia aplicada ao manuseio de cargas, de forma a auxiliar no desenvolvimento econômico e, principalmente, social das regiões portuárias. Para isto, quem sabe a criação de câmara, conselhos, comissões nos moldes da Câmara Regional do Grande ABC não seja a solução para mobilizar todos os atores sociais envolvidos neste processo, que não se resume apenas a empresários ou trabalhadores do setor, mas todos aqueles que moram, vivem ou trabalham em uma cidade portuária.

Referências bibliográficas
KREUKELS, Anton. Rotterdam: As Relações entre Porto e Cidade sob as Perspectivas Nacional e Internacional. In COCCO, Giuseppe; SILVA, Gerardo. Cidades e Portos: os espaços da globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

OLIVEIRA, Carlos Tavares. Modernização dos Portos. 3ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2000.

Rotterdam Dock Strike Closes Europe’’s Largest Port. Disponível em http://www.voanews.com/english/archive/2003-09/a-2003
-09-29-52-Rotterdam.cfm?moddate=2003-09-29
. Acesso em 11. Out. 2009

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