Na última semana, estive no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia, organizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia e realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na capital do estado. Os congressos são excelentes lugares para acompanharmos a produção científica das áreas, mas, sobretudo, para saber os temas que, no caso da sociologia, a sociedade coloca como urgentes.
* A sociedade da capacitação e o fantasma da inutilidade
* Novas qualificações, novas identidades?
Interessante notar que diante dos 31 grupos de trabalho existentes no congresso, dois eram dedicados às questões relativas ao mundo do trabalho: Sindicato, Trabalho e Ações Coletivas; Precarização, Solidarismo e Políticas Públicas no Mundo do Trabalho. Os dois grupos reuniram estudiosos do tema trabalho e durante três dias mais de 30 pessoas em cada grupo apresentaram pesquisas em andamento e concluídas sobre a questão laboral. Além disso, foram realizadas mesas-redondas sobre o tema, assim como fóruns de debates.
Este dado mostra bem o quanto o trabalho ainda é central na vida dos indivíduos e, principalmente, central para explicarmos a dinâmica social da contemporaneidade. Ou seja, por mais que alguns intelectuais (OFFE, 1995; GORZ, 2003; BAUMANN) falem sobre o fim da sociedade do trabalho e a emergência de uma sociedade de consumo, sem o primeiro é impossível termos o segundo. Entretanto, um ponto colocado por tais intelectuais é que o trabalho ainda está presente, embora sem as características que o fizeram importante para explicar toda a vida social dos indivíduos. O que queremos dizer é que para estes autores é impossível na atualidade explicar a vida social a partir do local que os homens ocupam nas forças produtivas, tal como colocaram Marx e Engels em seu clássico A Ideologia Alemã (2007).
Porém, a grande presença de estudiosos do mundo do trabalho no maior congresso de sociologia do Brasil faz com que pensemos que ainda é possível explicar a sociedade pela questão do trabalho. O fim da sociedade salarial, como colocado por Castel (1998), não impede que o trabalho ainda oriente a vida dos indivíduos e a signifique, não descartando a idéia do trabalho como categoria ontológica, ou seja, como inerente ao ser social.
O trabalho ainda é inerente ao decorrer da vida na sociedade
Desta forma, o XIV Congresso Brasileiro de Sociologia mostrou que o trabalho ainda é categoria sociológica e, mais ainda, categoria social, necessária de ser estudada, compreendida e explicada, visto que os indivíduos não vivem sem trabalho e não concebem suas vidas sem trabalho.
Quem quiser ver o programa do congresso e conhecer os trabalhos apresentados, pode acessar a programação dos grupos de trabalho no site oficial.
Referências bibliográficas
BAUMANN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998.
GORZ, Andre. Metamorfoses do Trabalho: Crítica da Razão Econômica. São Paulo: Annablume, 2003.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2007.