Sexta, 29 Março 2024

Na última semana, PortoGente apresentou uma notícia que em um primeiro momento me espantou e logo depois gerou um sentimento de tristeza. O título da matéria "Portuários visualizam futuro difícil e vão estudar Direito" causou um grande choque, pois o cais já não é visto como fonte única de sobrevivência para estes trabalhadores, o que consequentemente me causou imensa tristeza. 

Vejamos a fala de um arrumador do Porto de Paranaguá reproduzida na reportagem citada: 

O que me deixa mais angustiado é não saber hoje como será o meu dia amanhã. Por causa disso, passei a conciliar o porto com os estudos. Eu não recomendaria para meu filho ser portuário. Faço porque amo isso daqui. Em minha opinião, os empresários sabem que vincular pessoal traz prejuízo para o bolso deles, mas fica difícil lutar contra os caras. A vinculação é o maior perigo para nós e procurar uma solução negociada passa a ser a saída para tudo. O número de pessoas no mercado tende a diminuir a cada dia.  

É possível identificar nesta fala uma desilusão com a atividade portuária, que se traduz na busca pelos estudos como forma de conseguir uma nova qualificação profissional e no planejamento da carreira dos filhos, no qual o porto não é mais visto como local apropriado.

Estas questões estão profundamente ligadas à formação da identidade profissional do trabalhador. Elas refletem que a ligação do portuário com a sua profissão e, consequentemente, com a noção de pertencimento a um grupo está enfraquecida. Tempos atrás um portuário tomaria como certo para seu filho a profissão de portuário. Hoje, como a matéria nos mostra, o cais tornou-se um lugar de passagem, onde ficam aqueles que não têm outro caminho a seguir.

* Lei 8.630 muda perfil do trabalhador portuário
* Profissão Portuário

Isto me entristece, pois, segundo os discursos proferidos a favor da promulgação da Lei 8.630/93, esta tem por intuito tornar o trabalhador mais comprometido com a atividade portuária, criando a possibilidade de vinculação empregatícia a tempo indeterminado. A vinculação daria a oportunidade dos empregadores escolherem seus funcionários e criarem um corpo de trabalhadores qualificados e cônscios da sua relação com o trabalho portuário.

Entretanto, o que vemos é que a possibilidade de vinculação, que cada vez mais caminha de possibilidade para única saída, e as más condições de trabalho para os avulsos afastam os jovens das “linhas de produção” e faz com que a atividade portuária, que tempos atrás orgulhava aqueles que a exerciam, ser vista como bico ou mesmo como temporária (interessante notar que este cenário já era previsto pelos trabalhadores a época da tramitação da lei).

Foto: Divulgação Porto de Navegantes

Identificação do trabalhador com o segmento portuário é cada vez menor

Desta forma, a forte dade profissional carregada durante décadas pelos portuários se esvai em poucos anos e com ela, talvez, a própria profissão de portuário. A fala exposta acima traz uma idéia de que lutar por lutar não tem sentido, que isto traz um sentimento de impotência, visto que é quase impossível romper com a barreira construída pelo empresariado.

Porém, lutar é sempre positivo, pois, como já diria o italiano Antonio Gramsci, só desta forma poderemos romper com as concepções de mundo construídas e caminharmos efetivamente para um reforma política, social e econômica. Sem luta não haverá mudança. Sem luta não haverá futuro para os portuários. Por isso, lembremos as palavras de Ernesto “Che” Guevara: ndurecer é preciso, mas sem esquecer o que somos ou nos termos de Che, sem perder a ternura jamais.

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