Olá, família portuária!
Chegou o Natal, a celebração do nascimento daquele que veio para salvar os homens. Por todos os lados vemos mensagens de esperança e solidariedade, que nos convidam a reflexões. Porém, este não é tempo apenas de cuidar do espírito, a “carne” fala mais alto e milhares de pessoas vão às ruas para comprar aquela lembrancinha para os parentes e amigos. As lojas de comércio popular ficam repletas, assim como os shoppings. Mas, em tempos de crise, este Natal pode ser o último farto dos próximos 2 anos (ou quem sabe mais).
Neste sentido, velhas questões (que nunca saíram de moda) retornam ao centro com muito impacto. Uma delas é a relação custo de vida - padrão de vida. Estas duas expressões estão presentes a todo o momento, porém, quando falamos em tempos bicudos elas ressurgem com maior ímpeto, pois para que não soframos tanto devemos nos adequar a elas.
O custo de vida significa, em termos coloquiais, o quanto gastamos diretamente para viver. Cada cidade tem o seu custo de vida. A cidade de São Paulo, por exemplo, tem um dos mais altos custos de vida do país, com o pão francês chegando a custar mais de R$ 7,00 o quilo. Já no interior do estado, o custo de vida é mais baixo, principalmente, em termos de hortaliças, legumes e frutas, que costumam ser 50% mais baratos em comparação a capital. Mas, no custo de vida não entram apenas os itens alimentares. O vestuário e a habitação também perfazem o custo de vida. Na capital, as classes denominadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) C, D e E aproveitam as ruas de comércio popular, nos bairros do Brás e do Bom Retiro, que atraem também pessoas do interior, litoral e até de outros estados. Já as classes A e B passeiam pelos shoppings centers. Quanto a habitação, quanto mais para periferia, mais baixo o custo da moradia. Porém, enfrentam-se outros problemas, como infra-estrutura e segurança. Morar na região central da capital tem um custo alto, porém tem-se infra-estrutura, segurança, lazer e serviços.
Ou seja, o custo de vida é o gasto para vivermos, que pode ser único ou variar de faixa econômica para faixa econômica, conforme aquilo que desejamos. Claro que existe um padrão, ou seja, o mínimo que se precisa para viver. Caímos, então, na seara do padrão de vida. Padrão de vida significa o mínimo que um indivíduo necessita para sobreviver, o que cada um precisa para se manter em pé todos os dias e seguir na luta.
O padrão de vida pode variar de faixa econômica para faixa econômica. Não por razões de desejo, ou seja, o que queremos ou podemos comprar, mas por necessidades cotidianas, o que cada um precisa, conforme o local que ocupa nos meios de produção, para poder trabalhar.
Isto, pois, o padrão de vida deve medir o quanto devemos comer, qual o tipo de casa que devemos morar, o gasto que devemos ter com vestuário, tudo em consonância com a realidade da produção. Afinal, um operário de chão de fábrica precisa de mais calorias que um gerente. Falando de portos, um Trabalhador Portuário Avulso precisa ter uma refeição mais calórica do que um funcionário administrativo de operadora portuária. Neste sentido, o padrão de vida deve trazer o quanto de cada item um determinado indivíduo em dada posição nos meios produtivos deve consumir.
Sendo assim, em tempos de crise, devemos unir padrão de vida e custo de vida. Mais do que fazer economias “porcas”, como cortar a carne ou o feijão (que este ano chegou às alturas, custando mais de R$ 5,00 o quilo), devemos saber qual o padrão de vida necessário para a família. Com os gastos calóricos que ela possui, quais os itens que devo levar a mesa. Com crianças em casa, o feijão e o leite devem estar sempre presentes. A carne pode ser substituída por frango ou peixe, ou seja, verificar aquele que for mais barato e o ferro, presente na carne, pode ser colocado na mesa através das verduras, que quanto mais verde forem mais ferro possuem. As feiras livres ainda são bons lugares para economizar, principalmente na tão falada hora da xepa. Neste horário, é possível comprar bons legumes, frutas e hortaliças a preço mais em conta que nos supermercados. Faça o teste!
Em termos de vestuário, poupar é a palavra do momento. Afinal, as modas vem e vão e as roupas lotam os nossos armários. Investir nas famosas BBBs (boa, bonita e barata) e no básico, aquele que entra ano e sai ano nunca sai de moda, é o caminho para não fazer feio gastando pouco.
Ou seja, este é o momento para aproveitarmos e darmos o último suspiro de tempos de bonança, presentearmos amigos e parentes e fazermos uma ceia de arregalar os olhos, pois a previsão do tempo para 2009 é de chuvas e trovoadas. Mas, com cautela, lembrando da relação custo de vida – padrão de vida, quem sabe poderemos fazer esta tempestade que se anuncia passar como uma chuva fraca, que deixará apenas alguns pingos na nossa janela.
Em tempo, para aqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre o debate do custo de vida e padrão de vida, a FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - <http://www.fipe.org.br/web/index.asp>) e o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos - <http://www.dieese.org.br>) realizam mensalmente pesquisas sobre o índice do custo de vida. Além disso, existem livros que debatem esta questão, como os do economista indiano Amartya Sen e um clássico da história social, a obra Os Trabalhadores, de Eric Hobsbawn. No Brasil, as primeiras pesquisas de padrão de vida foram feitas na década de 1930 em São Paulo, pelos Profs Horace Davis e Samuel Harman Lowrie. Os resultados destas pesquisas podem ser encontrados na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo.