Quinta, 25 Abril 2024

O conceito de classe social tornou-se senso comum na atualidade. Falamos de classe na economia, na educação, na cultura; as pesquisas nos classificam em classes, porém, muitas vezes, não sabemos o real significado e construção desse conceito. Classe social é um conceito construído sociologicamente, a partir de observações empíricas e teóricas e nesse sentido, vale a pena vermos como ele se constitui, para que possamos utilizá-lo da melhor forma possível.

 

O conceito comumente conhecido refere-se ao conceito de classe social construído por Karl Marx. Vale atentar para o fato que Marx não definiu realmente o que seja a classe social. Esse estaria no famoso capítulo incompleto de O Capital, a sua obra-prima. Porém, seus escritos nos ajudam a delinear um conceito. O que podemos ver que o conceito de classe de Karl Marx é dado como histórico. Para ele, as classes são determinadas historicamente e produtos da sociedade em questão. Porém, as classes sociais propriamente ditas são relacionadas à sociedade moderna, que advém da Revolução Industrial. Sendo assim, para Marx, as classes são produtos da sociedade capitalista.

 

Ainda na definição marxista de classe, essas se constroem nas relações de produção, ou seja, no âmbito econômico. Para ele, as relações de produção constituem as relações de classe, marcadas fortemente pelo antagonismo entre os detentores dos meios de produção e os portadores da força de trabalho, representados em burguesia e proletariado. O fator econômico é a característica central desta definição de classe.

 

Porém, apesar do uso de observações empíricas em seus textos, tal como em O Capital, Marx criou categorias abstratas para desenvolver sua teoria econômica. As classes como apresentadas por ele são categorias analíticas que nos permitem visualizar diferenças entre grupos sociais separados por fatores econômicos, nos quais a posição nas relações de produção é fundamental. Este fator é essencial, pois Marx detecta a existência de outros grupos econômicos, como pequenos artesãos e camponeses, que não estão inseridos no modo de produção capitalista e por tal razão, não submetidos à estrutura de classes da sociedade capitalista. Este fato pode ser constatado em A Luta de Classes na França e O 18 Brumário de Luis Bonaparte, quando Marx mostra a ação dos camponeses enquanto grupo.

 

Esta ação conjunta é chamada ação coletiva. A ação coletiva é a principal expressão da classe social. É através dela que podemos enxergar a classe social, pois a ação seria a conjunção de interesses de uma determinada classe. Estes interesses podem ser imediatos ou em longo prazo. Os interesses imediatos são aqueles traduzidos em reivindicação salarial, melhores condições de trabalho, baixa no custo de vida, etc; interesses que regem a vida de todos os trabalhadores, independente da posição na produção. São interesses que de uma forma espontânea e sem reflexão une um determinado grupo de indivíduos. A partir do momento que este grupo passa a refletir sobre suas condições de vida, trabalho, social e que a sua relação com o grupo detentor dos meios de produção é de explorado, os interesses passam a ser conduzidos para ações de maior vulto. Estes são considerados interesses em longo prazo e podem ser vistos como frutos da consciência de classe. São esses interesses que movem as classes sociais, no caso marxista, o proletariado, a uma ação coletiva que visa o fim do regime capitalista. Sendo assim, a consciência de classe é que gera a ação coletiva.

 

As classes menores que estão situadas estruturalmente entre a burguesia e o proletariado, com relação a ação coletiva, podem dirigir-se a uma determinada ação por simpatia a causa ou igualdade de interesse compartilhado com a classe portadora da ação. Estas aproximações podem, em muitos casos, serem determinadas por questões culturais e não econômicas, tal como proposto por Marx. Thompson nos mostra como o cultural é importante na formação das classes e, que apesar do econômico prevalecer, o simbólico é importante na difusão da cultura de classe.

 

A classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres vivem suas relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas, no interior do “conjunto de suas relações sociais”, com a cultura e as expectativas a eles transmitidas e com base no modo pelo qual se valeram dessas experiências em nível cultural. (THOMPSON, 2001, p. 277)

 

Segundo a citação acima, podemos perceber apesar da predominância do econômico, a importância do fator cultural na constituição da classe. Porém, para Thompson este é um dos pontos que contribuem para a formação da classe. Para ele, o principal é a questão da consciência de classe, que gera a luta de classes. Sem consciência a classe não existe. Ela existe apenas como categoria analítica, heurística, e não como categoria real, histórica. Sem consciência não se empreende a luta de classes. A luta de classes é fruto da ação coletiva empreendida pela classe através da consciência de si mesma.

 

Thompson dá grande importância ao fator cultural e a experiência na formação da classe social. Apesar de sua filiação marxista, sempre pontuando as relações de produção como fatores determinantes das classes sociais, Thompson soube como poucos demonstrar como as classes sociais são reais e não apenas abstrações estruturadas para categorizar os grupos sociais. Vejamos a citação abaixo:

 

A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem (e geralmente se opõem) dos seus. A experiência de classe é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente. A consciência de classe é a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais. Se a experiência aparece como determinada, o mesmo não ocorre com a consciência de classe. Podemos ver uma lógica nas reações de grupos profissionais semelhantes que vivem experiências parecidas, mas não podemos predicar nenhuma lei. A consciência de classe surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca exatamente da mesma forma. (THOMPSON, 1987, p. 10)

 

Como podemos ver, a consciência de classe se constrói através das experiências vividas pelo grupo social, expressas nas formas culturais. As tradições, costumes, valores são frutos de uma vivência em comum, de um grupo social. A consciência de partilhar interesses iguais e identificar-se com estes e com os membros do grupo social é que, para Thompson, forma a classe. A classe não existe sem a consciência. Fazer parte de uma classe é identificar-se com seus valores e seus interesses, consciente de que estes são partilhados por todo o grupo. 

 

A classe, apesar de ser um ente abstrato, que é utilizado pelos teóricos como moeda corrente, torna-se real nos escritos de Thompson. A classe, para ele, “(...) é definida pelos homens enquanto vivem sua própria história e, ao final, esta é sua única definição”. (THOMPSON, 1987, p. 12)

 

Ou seja, a classe é um conceito, porém ela é construída no cotidiano. Sendo assim, mais do que definir a que classe pertencemos, devemos observar as ações que empreendemos, as práticas que utilizamos, pois elas refletem e constroem a nossa posição na sociedade. Mais do que estatísticas, são as nossas ações que demonstram quem realmente somos nessa sociedade.

 

Referências bibliográficas

FERNANDES, Florestan (org.). Marx/Engels. São Paulo: Ática, 2001. Coleção Grandes Cientistas Sociais.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. Livro 1

THOMPSON, E.P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Vol 1 A árvore da liberdade

_______________. Modos de Dominação e Revoluções na Inglaterra. In SILVA, Sérgio (org.). As Peculiaridades dos Ingleses. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001

_______________. Algumas Observações sobre Classe e ‘Falsa Consciência’. In SILVA, Sérgio, (org.). As Peculiaridades dos Ingleses. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s
Deixe sua opinião! Comente!
 

 

banner logistica e conhecimento portogente 2

EVP - Cursos online grátis
seta menuhome

Portopédia
seta menuhome

E-book
seta menuhome

Dragagem
seta menuhome

TCCs
seta menuhome
 
logo feira global20192
Negócios e Oportunidades    
imagem feira global home
Áreas Portuárias
seta menuhome

Comunidades Portuárias
seta menuhome

Condomínios Logísticos
seta menuhome

WebSummits
seta menuhome