Sexta, 26 Abril 2024

O tema da modernização portuária, desde o início, suscitou trabalhos de pesquisa. A idéia que uma legislação mudaria a forma de administração dos portos e de gestão do trabalho nestes locais fez com que alguns pesquisadores se debruçassem sobre tema, mesmo antes de sua concretização. Um destes trabalhos é o de Moacir Oliveira Junior. Intitulado Mudanças Organizacionais e Inovações Tecnológicas: Impactos sobre os padrões de relações de trabalho no Porto de Santos, a dissertação de mestrado de Oliveira Jr foi finalizada e defendida na Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP em 1994. O trabalho tem por objetivo compreender as mudanças organizacionais e tecnológicas geradas pela modernização dos portos em Santos.

 

Na época em que Oliveira Jr realizou sua pesquisa, a lei havia sido promulgada a pouquíssimo tempo, o que não tornou possível compreender completamente os reflexos da modernização nas relações de trabalho no porto, porém, seu trabalho é um dos primeiros, senão o pioneiro, a tratar da questão da modernização portuária. Para concretizar seu objetivo, Oliveira Jr utilizou-se de uma extensa revisão bibliográfica e também realizou entrevistas semi-estruturadas com líderes sindicais, líderes empresariais, administradores do porto e representantes da prefeitura.  Por isso, mesmo não trazendo o quadro sobre as mudanças, seu estudo é importante para compreendermos como empresários, sindicatos, prefeitura e dirigentes da Codesp se posicionavam perante a modernização.

 

Este ponto é importante, pois ao trabalharmos com alguns textos produzidos entre 1991 e 1999, o que inclui artigos de jornais e revistas, vemos uma forte opinião sobre a influência dos trabalhadores nos altos custos portuários, apontando como fator principal a grande quantidade de trabalhadores, que, segundo os textos, era mantida pelas entidades sindicais para manter os “privilégios” de sua base [1]. Porém, como mostra Oliveira Jr, ao entrevistar empresários do setor, os custos do trabalho não foram apontados como problema. Em contrapartida, foram considerados bastante altos os custos da Codesp, o que incluía, na época, a mão-de-obra dos doqueiros, assim como tarifas de uso da infra-estrutura, entre outros. Os empresários argumentavam, em relação ao tamanho das equipes, que estas deveriam obedecer uma lógica mais racional. Com isto poderia se aumentar, inclusive, os níveis de remuneração dos trabalhadores portuários.

 

Infelizmente, esta foi uma proposta que não aconteceu. As equipes diminuíram e os salários mantiveram seu patamar, isto se não foram reduzidos. Porém, a importância do trabalho de Oliveira Jr está no fato de podermos ver as posições tomadas e previstas pelos diversos atores que compõem o mundo portuário diante da modernização e verificar se elas chegaram a seus objetivos, se os atores permaneceram com estas posições ou mudaram, enfim, como as estratégias previstas conseguiram ou não serem executadas. Ao olharmos para estas questões, podemos verificar como a história é ou não é planejada. Afinal, a história não é composta de homens isolados, mas de homens na construção de suas relações sociais, enfim, no exercício de sua coletividade.

 

Referência bibliográfica

OLIVEIRA JUNIOR, Moacir M. Mudanças Organizacionais e Inovações Tecnológicas: Impactos sobre os padrões de relações de trabalho no Porto de Santos. 1994. Dissertação (Mestrado em Administração) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo.



[1] Entre outros exemplos: FRIEDLANDER, David. “A Máfia da Estiva”. Veja, 13 de maio de 1992, nº 1.234. Após a promulgação da lei de modernização, a demora na implantação do processo também gerou matérias na mídia impressa que “jogavam” a culpa nos trabalhadores e na luta pela “manutenção de seus privilégios. Como exemplo ver SCHIAVON, Hélio. “Trabalhadores resistem à inscrição nos OGMOs”. In A Tribuna. 18 abr. 1996. Caderno Porto e Mar, p. 6.

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