Quinta, 28 Março 2024

Olá, família portuária! Há algumas semanas falamos sobre a importância de tomarmos novamente o controle de nossa história e sermos partícipes da construção da sociedade, como bem nos colocaram os cientistas sociais alemães Karl Marx e Max Weber. E não há nada melhor para voltarmos aos trilhos do que recordarmos o que já fizemos. Neste sentido, a obra de Maria Lucia Caira Gitahy é importantíssima.

 

O livro Ventos do Mar: Trabalhadores do Porto, Movimento Operário e Cultura Urbana em Santos, 1889-1914, publicado em 1992 pela Editora Unesp e pela Prefeitura Municipal de Santos, fala sobre a construção do movimento operário santista e como este construiu uma cultura entre os trabalhadores e vigente na própria cidade que perdurou até o início da década de 1990.

 

Santos, como bem destaca Gitahy, durante muito tempo foi uma pequena vila composta por casarios e que recebia mercadorias nos trapiches localizados na região portuária. Em 1839, Santos foi elevada à categoria de cidade [1], e a partir dos anos de 1850, a cidade passou a ganhar uma nova configuração, pois pelos seus trapiches começaram a ser embarcadas as inúmeras sacas de café que chegavam ao porto. Porém, é a partir do início das obras de construção do Porto de Santos, que o Município realmente se desenvolve urbanisticamente e socialmente.

 

Segundo Gitahy, “a construção e o monopólio do Porto pela Cia. Docas geram uma reorganização do trabalho e do próprio espaço da cidade empreendida sob o signo da disciplina e da eficiência capitalistas”. (p.33) O porto passa a ter papel central na vida da cidade, que tem sua cultura organizada pelo movimento de trabalhadores, exportadores, importadores e todos os sujeitos ligados ao Porto de Santos. Mas, ela também nos mostra que não é apenas a disciplina e a eficiência capitalistas que formarão a cultura desta cidade. A construção do porto traz uma nova categoria de atores para o palco: os trabalhadores, sejam os da construção civil, dos transportes ou os portuários.

 

Eles passaram à centralidade da cena. Como personagens principais assumiram os rumos da história. Os patrões, então os donos de trapiches, casas exportadoras e a Cia. Docas, demandavam uma grande carga de trabalho e salários parcos. Isto fez com que Santos vivesse dias de intensa movimentação dos trabalhadores. De acordo com Gitahy, em 1890 ocorrem dez greves em Santos, que viveu em 1891 a primeira greve geral de nível local do Brasil, o que contribui para o nascimento e consolidação do movimento operário santista.

 

O ano de 1904 inicia com a fundação da Sociedade Primeiro de Maio, agrupando apenas os operários da construção civil, que até a década de 1920 foram os principais articuladores do movimento operário santista. Em agosto do mesmo ano, funda-se a Sociedade Internacional União dos Operários, que buscou agrupar todos os trabalhadores de Santos. Em julho de 1907, uma assembléia geral criou a Federação Operária Local de Santos reunindo os sindicatos dos pedreiros, pintores, carpinteiros, funileiros, carregadores de café e tecelões. Apenas em 1919 surgiu a primeira agremiação trabalhista portuária, a Sociedade dos Estivadores de Santos, que viria a ser, posteriormente, o Sindicato dos Estivadores de Santos.

 

E, como mostra Gitahy, até o final da 1ª Guerra Mundial o movimento operário santista foi dono de sua história. Foi devido à mobilização dos trabalhadores durante esse período, que se consolidou, no início da década de 1930, o sistema de closed-shop. Além disso, as intensas mobilizações dos trabalhadores de Santos nesse momento renderam à cidade um codinome, o de Barcelona Brasileira, devido à grande quantidade de estrangeiros com ideais anarquistas que conduziram a cidade para uma cultura de liberdade, pela qual Santos foi conhecida durante muitos anos.

 

Tudo isto deve ser relembrado e tomado como norteador de nossas novas ações. O cenário é outro, os personagens também, mas o palco é o mesmo. Vamos relembrar, refletir, agir e, principalmente, pedir que os ventos do mar nunca parem de soprar!

 

Referências bibliográficas

GITAHY, Maria Lúcia Caira. Ventos do Mar: Trabalhadores do Porto, Movimento Operário e Cultura Urbana em Santos, 1889-1914. São Paulo/Santos: Editora Unesp/Prefeitura Municipal de Santos, 1992.

GONÇALVES, Alcindo. Lutas e sonhos: cultura política e hegemonia progressista em Santos. 1945-1962. São Paulo/Santos: Editora UNESP/Prefeitura Municipal de Santos, 1995.

 

Leia também

* O sistema de closed-shop e a cultura do trabalho

* Os nomes da Cidade



[1] GONÇALVES, Alcindo. Lutas e sonhos: cultura política e hegemonia progressista em Santos. 1945-1962. São Paulo/Santos: Editora UNESP/Prefeitura Municipal de Santos, 1995

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