Terça, 16 Abril 2024

Olá, família portuária! 

 

O ano está terminando, mas continuamos aqui, firmes e fortes, prontos para compreender um pouco mais o mundo portuário. Esta semana, incentivados pelo último relatório da pesquisa Porto Universidade, divulgada pelo Instituto de Pesquisa A Tribuna (Ipat) ao final de novembro de 2007, escolhemos como tema do debate a qualidade de vida do trabalhador portuário avulso. Este foi, junto com uma análise da relação porto-comunidade, o objeto escolhido para este relatório. O objetivo da pesquisa foi compreender, através da metodologia de análise da Qualidade de Vida do Trabalhador, o que os portuários, divididos em celetistas, avulsos vinculados e avulsos não-vinculados, entendem por qualidade de vida no trabalho e como percebem isto em seu cotidiano de trabalho.

 

Na coluna de hoje, nos centraremos apenas nos resultados obtidos para os trabalhadores portuários avulsos não-vinculados, que, segundo a sua natureza do trabalho, não têm certos benefícios que o celetista e o avulso vinculado possuem, como plano de saúde empresarial. Neste sentido, podemos pensar que a situação contratual do avulso não-vinculado é precária por não incluir tais benefícios. Entretanto, como podemos observar pela pesquisa, a natureza do trabalho, apesar de ocupar o 4º lugar no ranking dos itens recorrentes, tem grande importância pois auxilia no desenvolvimento do espírito de coletividade/cooperação e camaradagem, item que aparece em 1º lugar entre os avulsos não-vinculados (Ipat, 2007, p. 38). Ou seja, a natureza ocasional do trabalho, sua forte ligação com a entidade sindical e o sentimento de ser um “operário sem patrão” permite que os avulsos não-vinculados desenvolvam este espírito de coletividade, movido pelas incertezas e inseguranças de uma profissão que precisa de tal espírito para a própria sobrevivência.

 

Assim, podemos verificar que itens como autonomia sobre o trabalho, respeito e satisfação com seu estilo de vida, natureza do trabalho e sensação de bem-estar no trabalho são mais valorizados pelos avulsos-não vinculados do que pelos demais trabalhadores portuários, que valorizam com maior intensidade itens como cesta básica e tipo de vínculo, sendo que este último não encontrou no lugar no ranking dos 10 mais para os não-vinculados.

 

Neste sentido, podemos contribuir com o debate levantado pelo Ipat, o qual é necessário para a compreensão das novas relações de trabalho estabelecidas após a Lei de Modernização dos Portos. Ou seja, a intenção de analisar os três tipos de vínculos pelas mesmas variáveis é importante, pois permite uma comparação entre as atribuições dadas pelos trabalhadores em diferentes situações laborais as mesmas variáveis. Porém, não podemos considerar como negativas ou positivas determinadas atribuições visto que os próprios vínculos contratuais dão aos trabalhadores, formas diferentes de relacionamento com o trabalho, os colegas e as empresas. Considerar, como exposto pela pesquisa, que o avulso não-vinculado utilizou menos o convênio médico do que o celetista, porém não considerar quantos dos não-vinculados entrevistados possuem plano de saúde, é dizer que os celetistas se preocupam mais com a saúde, sem averiguar a causalidade deste fato (Ipat, 2007, p. 43). Ou seja, cairemos no erro de nivelar a condição dos trabalhadores e com isso, mostrar que a qualidade de vida do trabalhador, independente de seu vínculo trabalhista, deve ter as mesmas variáveis.

 

Por tal fato, pensamos que, sendo uma versão preliminar, o Ipat pode contribuir mais com o debate se estabelecer variáveis próprias para análise da qualidade de vida dos portuários, considerando as naturezas dos trabalhos e percebendo, através de análises qualitativas, como os trabalhadores vêem esta natureza e como eles atribuem significados, cada qual em seu vínculo, as relações com o trabalho, com os colegas e com as empresas. Desta forma, as pesquisas poderão auxiliar tanto o Estado como as empresas a produzirem políticas que confluam com os interesses e sentimentos de cada trabalhador, conforme seu vínculo empregatício, o que permitirá criar ambientes de trabalho saudáveis e produtivos, gerando cada vez mais riqueza e, conseqüentemente, emprego e desenvolvimento para nossa região.

 

Referências

IPAT. O Porto e a Comunidade. Santo/SP: Novembro de 2007. Disponível no site http://www.portouniversidade.com.br. Acessado em 01. dez. 2007

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