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Como surge um porto?
Círculo Rudimentar
Em algum tempo remoto, sem que houvesse um projeto de porto, o ser humano olhou para a outra margem de um rio ou lago ou para o vazio do horizonte. Diante das necessidades de avançar sobre o espelho d’água (livre de obstáculos submersos) e transportar algo (carga ou passageiro), pensou em uma maneira de manter-se na superfície (meio flutuante - embarcação miúda); procurou o melhor local (que permitisse o embarque/desembarque); e escolheu o melhor momento (sob a luz do dia - senso de direção) para que a travessia (navegação de ida e volta) ocorresse com segurança para a embarcação, para a carga e para as pessoas.
A repetição desses atos, primordialmente intuitivos, conferiu a essa prática um caráter cultural e consagrou vários lugares como portos, que se configuraram como um projeto de porto estruturalmente simples e poucas adaptações no ambiente. Dessa forma, os portos foram concebidos quase que exclusivamente pelo favorecimento das condições naturais e serviram, e ainda servem, como ponto de apoio às atividades comunitárias, resultando num paulatino adensamento populacional, tanto para atender às operações de carga e descarga, quanto por interesse nas mercadorias.
(Leia também Instalações Rudimentares)
Círculo de Convergências
Aquele modelo rudimentar, além de trazer resposta inicial à pergunta formulada, como surge um porto?, enseja o grande motivo para o aprimoramento dos portos: a expansão da atividade comercial entre comunidades distantes entre si.
As comunidades que buscam o atendimento de suas necessidades e têm crescente interesse comercial vencem distâncias sobre a terra firme e transformam o porto num ponto de convergência que dê conta do fluxo de entrada e saída de mercadorias e pessoas, com variedade de serviços, tanto para viajantes como para produtores; quem precisa vender consegue enviar e quem precisa comprar consegue receber. As amplas possiblidades de ir mais longe e de transportar mais coisas, variedade generalizada, suscita eficiência. A rotina do porto como ponto de convergência passa a ser mais intensa, senão, perdem-se bens, serviços e oportunidades.
Então, nesse futuro porto para onde tudo converge, restará ampliar capacidades, reduzir tempos, minimizar esforços e trabalhar as oportunidades. Como ponto de convergência geográfica, lugar abrigado em águas tranquilas, o projeto de porto perde o caráter informal e ganha estruturas mais robustas para movimentação de pesos, amarração de grandes embarcações, armazenamento transitório de mercadorias, força de trabalho organizada e figuras de autoridade para controle, fiscalização e comunicação local, transformando-se em um porto formal com regras específicas e cobrança de tarifas para manutenção desse sistema organizado.
(Leia também Cadeia Logística)
Círculo de Desenvolvimento
Cabe à ciência econômica a análise dos fenômenos ligados à produção, distribuição e consumo de bens e serviços. No entanto, o fortalecimento do porto como estrutura dinâmica reside na constante adaptação à vocação econômica da região em que se situa.
Na história, os diferentes ciclos de desenvolvimento econômicos têm mostrado que ocorrem mudanças nas atividades produtivas. Em termos regionais, mesmo que uma atividade cesse, outra se inicia. O que cada região produz e exporta pode abrir caminho para importações. A intensificação desse círculo de desenvolvimento remodela o aparato estrutural do porto ou impõe um projeto de porto totalmente novo e adequado às dimensões do novo ciclo econômico.
Deflagrado algum processo de franco desenvolvimento regional baseado em produtos específicos, o dinamismo requerido para as operações de carga e descarga desses produtos fomentará a construção de portos especiais, a comunidade local se tornará força de trabalho especializada. A possibilidade de o desenvolvimento atingir uma economia de escala por força do mercado global, fatalmente, alimentará o ciclo de tornar obsoletos os empreendimentos portuários iniciais que darão lugar a grandes novos projetos de portos, mais modernos e específicos.
No diagrama a seguir, destaca-se o círculo de desenvolvimento como um dos motivos mais nítidos para justificar o projeto de porto e a sua construção na atual conjuntura, não obstantes as questões do comércio que permeiam todos os círculos.
(Leia também A vocação marítima)
Expansão Marítima
O real crescimento das atividades portuárias e o consequente desenvolvimento dos portos ocorrem quando o olhar se volta para as águas exteriores em busca de novos mercados. É certa a compreensão de que a expansão marítima ocorrida na Europa a partir do século XV ampliou a Revolução Comercial iniciada no século XII que, por sua vez, abriu caminho para a Revolução Industrial no século XVIII. Nessa atmosfera de revoluções e conquistas de novas terras, consagra-se a expressão “escala mundial” para a ciência, comércio e indústria; o mundo ficou menor e o projeto de porto seguiu modelos que deram certo. Porém, a partir desses fenômenos históricos, é possível depreender quais fatores estão interligados com a expansão e desenvolvimento das atividades portuárias e marítimas, e que propiciaram ganhos como, por exemplo, a quebra de monopólios:
- O ambiente geográfico
- A expansão comercial
- A mentalidade do povo
- A ação dos governos
- A tecnologia e a indústria
- O financiamento
Isto posto, vale considerar que há fatores ligados ao extrativismo cuja atividade tem prazo para terminar. Em Kamsar, na República da Guiné, por tradição, a cidade abriga um pequeno porto pesqueiro, mas devido à extração de bauxita, o terminal da Companhia de Bauxita da Guiné está instalado na foz do Rio Nunez para o escoamento da produção da mina de Sangaredi.