E vós, ó cousas navais, meus velhos brinquedos de sonho!
Compondo fora de mim a minha vida interior
(Fernando Pessoas, Ode Marítima)
É conveniente à história do Brasil e ao turismo regional a inclusão da antiga estação da Estrada de Ferro Santos-Jundiai (EFSJ) no projeto do novo Museu do Porto de Santos, como propõe o engenheiro e diretor de Desenvolvimento de Negócios e Regulação, da autoridade portuária, Eduardo Lustoza. Uma visão que contempla com relevância o desejo do presidente da Autoridade Portuária, Anderson Pomini, de fomentar a atração turística da área do Valongo, onde situa-se a estação; reativar o papel do porto como atração turística e integrar o porto e a cidade. Compartilhando espaço, uma iniciativa que atribui estrutura gastronômica e cultural à altura do principal porto do hemisfério sul, para contar a sua história e ampliar o seu diálogo, principalmente com o Estado de São Paulo.
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Por essa estação passou a conquista do mais rico Estado brasileiro, São Paulo, pelos imigrantes que desembarcaram no Porto de Santos, de diferentes origens transoceânicas, e seguiam de trem para os destinos sonhados. Um processo que promoveu a expansão cafeeira e seu apogeu, no final do século XIX. Com uma engenharia genial para a subida da barreira representada pela Serra do Mar, “tão impraticável que excede a toda humana explicação”, nas palavras de Morgado de Mateus, que governou a capitania de São Paulo. Nos fundos da estação, encontra-se abandonada e tombada pelo poder público a réplica do armazém 12-A, o antigo armazém de bagagem. Nos arredores, compondo um parque histórico, estão o museu do café e o monumento nacional Ruinas Engenho São Jorge dos Erasmos.
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O Museu do Porto de Santos também irá mostrar a memória sindical, como o tempo de Afonso Neves Guerra e Osvaldo Pacheco, e de tantas figuras que escreveram, com suas lutas célebres, capítulos do movimento operário e sindical portuário. As mudanças de paradigma da movimentação de mercadorias, como um subsídio para um debate permanente em um parque acadêmico de doze universidades, em uma cidade de 30 km², no tempo que chega: da Internet, da tecnologia blockchain e Inteligência Artificial (IA).A construção da usina hidrelétrica de Itatinga, a pioneira entre os portos do mundo.
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Por ser uma estrutura turística destacada nacionalmente, a exemplo de similares no hemisfério norte e movimentada com a montagem de programas temporários, o museu do porto, por suas características únicas, ligadas ao comércio marítimo e à navegação, terá um caráter social de preservar, contar a vida e inspirar ideias. Como afirma o historiador Cezar Honorato, da UFF: “a região do Porto de Santos é o berço da economia quinhentista”. Ou seja, do Brasil.
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Esse historiador também destaca dois dados importantes sobre a Companhia Docas de Santos (CDS). Foi a única empresa privada portuária brasileira surgida nos estertores do Império e, além disso, percebida como antecipadora de um modelo de empresa concessionária de serviços públicos no Brasil. Dados que mostram que o Museu do Porto de Santos não é uma tarefa trivial e exige competência em museologia, como foi a obra recente do Engenho dos Erasmos, pela Universidade de São Paulo – USP.
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É imperativo que o Porto de Santos tenha um museu com a sua dimensão. O entusiasmo com esse projeto, manifestado pelo presidente Pomini, é um bom começo. Muito acervo já foi perdido. Entretanto, há tanto a preservar e tratar. A galeria subterrânea de esgoto do porto, no trecho do Valongo, em pedra lavrada, lembra, em dimensão menor, a famosa de Paris, cenário de muitos filmes. Pedras da pedreira do Jabaquara, local, talhadas por canteiros espanhóis, imigrantes que trabalhavam na antiga CDS.
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