No espetacular livro Rota de Ouro e Prata, lançado em 1995, o pesquisador marítimo José Carlos Rossini, radicado em Genebra, na Suíça, conta detalhes da história dos principais transatlânticos que faziam a linha da costa leste da América do Sul. Dentre eles, os franceses Lutetia, Gallia e Massilia.
Cartão-postal mostrando o Lutetia sendo rebocado, no porto francês de
Bordeaux. Foi o primeiro paquete entregue à Sud-Atlantique. Col. do autor.
Eis o que conta Rossini:
A Companhia de Navigation Sud Atlantique, com o intuito de atender as exigências do governo da França - para concessão de um serviço postal oficial para América do Sul -, mandou construir, em 1912, quatro transatlânticos com 14 mil toneladas e velocidade superior a 18 nós, em dois estaleiros franceses.
O primeiro construído foi o Lutetia, de 14.783 toneladas. A embarcação fez viagem inaugural em novembro de 1913 para Brasil e Rio da Prata. O segundo da série foi o Gallia, cuja viagem inaugural foi realizada em setembro de 1913.
O Lutetia atracado no Porto do Rio de Janeiro, em 1913, na viagem
inaugural. Nas chaminés observa-se o galo pintado, que foi o emblema
da armadora entre 1911 e 1913. Conta-se que os estivadores imitavam
o som de um galo quando o navio estava atracando, além da companhia
ter recebido jocosamente o apelido de Cocoricó Line. Por essa razão, o
galo foi retirado das chaminés. Acervo de João Emílio Gerodetti.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o tráfego marítimo de navios franceses foi interrompido e várias embarcações foram utilizadas como navios-transporte e auxiliares.
O Gallia foi torpedeado em 1916 por um submarino alemão na costa da Sardenha e foi ao fundo do mar, levando junto 1.500 soldados franceses e sérvios. O Lutetia conseguiu sobreviver à guerra.
O Massilia foi lançado em 1914, mas devido à eclosão da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) só foi completado em 1920. Media 182,9 metros
de comprimento e grande capacidade para transporte de passageiros
em diversas classes. No Brasil, ficou o mais conhecido do trio em razão
do hediondo crime da mala, onde a vítima foi Maria Féa.
Já o Massilia, o terceiro da série, foi lançado no Porto de La Seyene, na França, em 10 de abril de 1914, dois meses antes de ter sido deflagrada a guerra.
Esse acontecimento fez com que a construção do Massilia fosse interrompida. O navio permaneceu no estaleiro, inacabado. Em 1919 foram recomeçados os trabalhos para o término da construção do transatlântico.
O Lutetia visto de proa (frente), exibindo o famoso galo francês
no Porto de Bordeaux - 1913. Coleção do autor.
Sua viagem inaugural deu-se em 1920, saindo de Bordeaux com destino aos portos de escala da costa leste da América do Sul. Na viagem, o Massilia bateu o recorde da travessia Lisboa–Rio de Janeiro, realizada em 9 dias e 19 horas.
O Massilia e o Lutetia, na década de 1920, elevaram o prestígio da Companhia Sud Atlantique de tal modo que seu emblema, representado pelo galo francês, passou a ser símbolo de qualidade.
Imagem mostra o Lutetia - Cidade Luz, de 1913, fotografado em uma
de suas viagens, saindo de Santos, na altura da Fortaleza da Barra.
Reprodução do livro "Photografias e Fotografias do Porto de Santos", lançado em 1996.
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